sexta-feira, 13 de abril de 2012

"LICENÇA CRÔNICA": SANDRO BAHIENSE


Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião, contos e máximas. Tais trabalhos podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/. Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas. Confira, abaixo, a crônica intitulada "Um dia ainda volto a ser criança”:

UM DIA AINDA VOLTO A SER CRIANÇA

Não entendo como a ciência, tão evoluída como está, ainda não descobriu como fazermos voltar a ser criança. Não falo em relação a parecermos mais jovens e sim ficarmos jovens de verdade. Aliás, jovem não, criança. Jovem, protótipo de adulto que é, já começa a elaborar seus problemas desde cedo (e cada vez mais cedo).

Lembro-me muito bem quando eu era criança. Sempre fui uma criança com muitos problemas. Tinha uma dúvida muito grande entre assistir o desenho do Pica-Pau ou o Caverna do Dragão, se iria brincar de bola ou de bolinha de gude, se iria para a casa da minha avó na Serra ou da outra que era em Cariacica. Muitos problemas. Ah doces problemas...

Criança não se preocupa em ter conta pra pagar, não se preocupa em ter de arrumar emprego, em ter de ser independente, em arrumar marido pra casar porque passou dos 30, em comprar um carro melhor do que o colega de emprego... Criança não se preocupa, desculpe o termo, com porra nenhuma! E essa é a graça. Criança vive. E ponto. Eu vivia pra cacete, brincava pra cacete e não me preocupava com nada pra cacete.

Me parte profundamente o coração ver nossas crianças preocupadas, aliás, diria mais, ávidas, em se tornarem adultas. Não consigo conceber essa pressa em arrumar obrigações e problemas. Do que adianta você ter idade suficiente para ir àquela boate maneira se você tem de trabalhar 30 dias para arrumar grana para ir a ela? E de que adianta ir à boate em um carro popular e nenhuma mulher gostosa (desculpe o termo pejorativo) te der mole? De que adianta poder usar aquele vestido tubinho apertadíssimo se nenhum homem irá te valorizar como você merece? Ser adulto até tem lá suas vantagens, mas elas são infinitamente menores do que as desvantagens.

Se eu pudesse voltaria agora a ser criança, a brincar com os pés na terra, a me molhar, sem culpa, na chuva, a correr dos cachorros da rua, a me lambuzar de chocolate... Voltaria a ser feliz incondicionalmente. Quem sabe um dia isso acontecesse? Quem sabe eu sou um Benjamin Button e não sei? Quem sabe um dia eu ainda volto a ser criança?

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