segunda-feira, 11 de junho de 2012

BLOG CULTURAL OUTROS 300 - 1 ANO: PAULO ROBERTO SODRÉ


Paulo Roberto Sodré nasceu em Vitória-ES em 1962, onde fez todos os seus estudos, formando-se em Letras-Inglês pela UFES em 1986. Possui mestrado em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor de Literatura Portuguesa na UFES. Entre suas principais obras, podemos citar: “Interiores” (1984) “Ominho” (1986), “Lhecídio” (1989), “Dos olhos, das mãos, dos dentes” (1992). Confira, abaixo, o poema "Sete pontos":

Sete pontos

(a um pedido de poema de Jean)

1.

Pontilham-se

as frases

de Jean.

Pontos de giz;

pontas de luz,

vaga-lumes.

Pontuam-se

as leituras

por Jean.

Pontas de lis;

pontos de nus

pirilampos.


2.

Em cada ponto

um grão de enigma

preenche a frase:

multidão de sombras

vagas, ternas, dóceis.

Um mundo no ponto:

cavanhaque, sorriso,

relógios, estradas,

castanhos óculos

nos pontos cardeais.

Não o decifro.

Devora-me, então?


3.

Ponto de frase,

ponto final

de São Paulo à Ilha,

estrada virtual.

Canta Milton

os pontos tantos

de areia, de nuvem,

de poeira, de lúmen.

Frases de pontos

johann, ivan, joão, jean,

nome de graça

e reticências.


4.

Tantos sentidos

têm o ponto, sim:

termo, fim, parada,

erro, quinau, falta,

adição, aumento,

ato, feito, passo,

grau, estado, lance,

assunto, tema,

mira, alvo, interesse,

lugar, sítio, local,

altura, marcha,

questão, dúvida,

indivíduo, sujeito.

O dicionário

se cala, sem mais.

Os sentidos

tantos dos pontos:

estrela, amora, pólen?

Ou sorriso de Jean?


5.

Brinco de esperar

em cada ponto

um grão, um broto

de aceno suave.

Em cada um...

a folha, a flor,

um fruto afeito

ao céu da boca.

Cada ponto

anoitece a frase

e se deixa

ao sereno.

Amanhã?


6.

Quem conta

um ponto

remata um canto

para quem lê.

Tanto de lembrança:

o pontilhado

do que se vê

e do que se apronta,

do que se adivinha

e do que encanta

inad(i)vertidamente.


7.

Aponte

o ponto, a ponte

entre o que escreve

e o que, pronto,

leio.

Apronte

a ponta

a indicar

o rio, a eira, o leito

onde me deite,

onde me solte

sobre o que pontua

sua frase

de pontos

castanhos.

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