sábado, 23 de junho de 2012

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Sociedade dos nomes próprios

São tantos os nomes ou sobrenomes engraçados e curiosos que pais e mães dão aos seus filhos. Eles só se esquecem de uma coisa: O que seus filhos vão pensar e achar disso. A maioria tira de letra, mas alguns sofrem muito com isso, e, para tanto que existe a F.O.D.A. Mas calma isso não é um palavrão! É simplesmente a sigla de Fundação de Opositores De Alcunhas Adquiridas, com sede na capital paulista há mais de dez anos. Ela que é administrada por um rapaz chamado Antônio serve para ajudar quem tem dificuldade de lidar com seu nome e/ou sobrenome. Uma dessas pessoas era Oscar. Ele simplesmente tinha ojeriza de seu nome todo. Como sua família era de origem espanhola seu sobrenome era Haio Roucho. Imagina quando liam em voz alta o nome completo dele “Oscar Haio Roucho”! Ele foi, e é altamente complexado por causa disso. Morria de vergonha na escola. No serviço militar foi motivo de horas de riso do cabo que o atendeu. Nunca namorou preocupado com o nome, até finalmente achar sua esposa, Irene, que por sinal foi quem lhe indicou para o F.O.D.A sem ele saber. Quando namorou com Irene mudou o sobrenome para Silva só para não assusta-la. No dia do casamento quando o padre disse seu nome todo teve que agüentar risinhos comedidos dos convidados. No trabalho, conseguiu esconder dos colegas por muito tempo seu nome completo, até seu documento cair na mão de um dos amigos mais gozadores da turma, resultado: Ele é sacaneado a cada quinze minutos. Tudo isso foi combustível para Irene mandar a carta para a fundação. Em um belo dia Oscar recebeu um bilhete, com letras e números recortados de revistas dizendo: Você é o número 70. Oscar não entendeu nada e achou que era algum trote. Depois recebeu outra carta desta vez com os dizeres: Sabemos de seu problema quanto ao seu nome. Ligue para este número e receba maiores instruções. Apenas diga que você é o número 70. Não conte isso a ninguém.
 Curioso Oscar ligou:
_ Fundação bom dia!
_ É... Bem, sou o número 70.
_ Ah sim, senhor Oscar, seja muito bem vindo a nossa fundação. Precisamos que o senhor anote um endereço. E imprescindível que o senhor venha hoje aqui.
Ele correu e anotou tudo. Decidiu ir até o endereço, lá encontrou uma padaria chamada Padaria Leva um Cacetinho e definitivamente achou que era um trote de mau gosto. Mas, antes que fosse embora viu um homem de origem árabe se aproximar e dizer ao pé de seu ouvido:
_ Número 70, estávamos lhe esperando, venha comigo.          
Oscar foi. Chegando aos fundos da padaria ele subiu uma pequena escada e chegou à sede. Leu na porta de vidro F.O.D.A. Perguntou?
_ Foda? Que porra é essa?
Ele mesmo riu do trocadilho que acabou fazendo sem querer. O homem que lhe acompanhava pareceu não gostar muito do comentário de Oscar. Eles chegaram e foram ao encontro de Antônio, líder da fundação:
_ Aqui está ele senhor Antônio. Ele tem um péssimo senso de humor!
_Obrigado Voulin, pode deixar que agora eu falo com ele.
Oscar viu ao longe várias pessoas no que parecia ser uma sessão de auto-análise. Porém o dialogo entre os dois começou à parte:
_ Bem Oscar sabe por que está aqui?
_ Pra falar a verdade não. Sei que sou o número 70, seja lá o que for isso. Está tudo muito estranho a começar por essa padaria levar um cacetinho. Não tinha nada mais sexual não?
E riu. Antônio continuava sério.
_ Realmente seu senso de humor não é dos melhores. Voulin tinha razão. Olha, quanto à padaria, já tentamos falar com o número 30, ou melhor, com o Manuel, para mudá-la várias vezes, mas como cacetinho é o nome do pão que é sua especialidade, e esse era o slogan dele...
_ Número 30?
_ É. É o senhor Manuel Boa Morte. Acredita que ele está aqui mais por causa do Manuel do que pelo Boa Morte? Ele sempre achou que esse estigma de português, bigodudo, chamado Manuel era o fim. Agora que ele está se adaptando.
_ Ah ta. E esse foda aí da porta?
_ Bem. Foi criação de meu pai. Fundação dos Opositores De Alcunhas Adquiridas. Quando ele bolou o nome da fundação ele nem imaginava essa sigla. Mas, como ele faleceu e essa foi sua vontade, eu a manterei.
_ Ahã, ta bom. E... Que papo é esse de número 70?
_ Bem na verdade o senhor seria o número 69, mas como achamos esse número muito sugestivo decidimos muda-lo para 70. Também não temos o número 11 por ser um atrás do outro e o 24 por motivos óbvios.
_ Hum... Sei. Entendi. É um lugar pra quem tem o nome esquisito como eu.
_ Exato.
_ Mas igual ao meu não tem.
_ Aé? Ta vendo aquela loira linda ali sentada a sua direita?
_ Sim.
_ Ela é da sessão de nomes estrangeiros. Ela é italiana chama-se Cecília Bucceta. Igual ao nome daquele mafioso lembra? Também pronunciamos Brusqueta aqui para ela não ficar sem graça. E aquele outro ali é de família espanhola como você, ele se chama Álvaro Porra. Que sobrenome né? E o Voulin? O sobrenome dele é Rabáh. Leia o nome dele rápido pra você ver. Ta vendo o japonês lá na ponta? Ele se chama Tacofuro Naraxa. Imagina como ele foi constrangido na escola por causa desse nome?
Oscar não agüenta e cai na gargalhada. Antônio fica sério. Depois de alguns instantes o rapaz pede desculpas. Antônio as aceita parcialmente. Oscar continua:
_ E você? Antônio. Nome bonito.
_ É. Sem dúvida. Mas meu sobrenome... Eu estou na sessão cacofonia. Meu sobrenome é Botelho Pinto. Assim como de meu pai. Agora sabe por que ele criou a fundação!?! Mas... Tem mais. Ta vendo aquele rapaz careca ali na janela. Ele é o Armando Pinto. Hoje faltaram, mais tem o Caio Pinto, o Felipe Pinto Soutto, o Adolfo Dias, e o campeão, coitado, o Serafim do Pinto. Oscar pragueja:
_ Jesus Cristo.   
_ Tem também.
_ O que?
_ Jesus Cristo. É aquele ali de jaqueta jeans, ele faz parte da sessão nomes por homenagem. Tem também o Elvis Presley e o Pelé, isso mesmo, Pelé da Silva Oliveira.
_ Caracas.
_ Hum. Precisa ver o número 8 chama-se Barriga. Seus pais deviam estar muito drogados no dia que o batizaram. Tem o Usnavy também.
_ Que diacho de nome é esse?
_ Não lhe é familiar? U.S.Navy. Seu pai era muito fã da marinha americana. Tem a Tesuda também.
_ E ela é gostosa mesmo?
_ Não. Sim. Quer dizer, não sei. É nome, não apelido. Seus pais quiseram homenagear as tias em seu nome e como elas eram Teresa, Sueli e Damiana já viu no que deu né?
_ Nossa já me sinto bem melhor sabendo que não sou o único com o nome esquisito no país.
_ Que bom. Essa é a idéia do F.O.D.A.Vai se filiar?
_ To dentro.
_ Lembre-se nossa fundação é secreta. Se isso cair nas mãos de algum jornalista, ou principalmente de algum comediante estamos ferrados!
_ Pode deixar serei sigiloso. Hein, como vocês me acharam?
_ Sua esposa, Irene.
_ Ah.
_ Ela é a número 2.
_ O QUE???
_ Nunca a perguntou por que ela não voltou mais a cidade onde nasceu?
_ Não. Por quê?
_ Bem, ela não vem mais as sessões. Faz uns cinco anos mais ou menos.
_ Cinco anos? É o período que eu a conheço.
_ Pois é. Você foi o primeiro namorado dela também. Ela só namorou alguém, que por acaso foi você, depois que conseguiu tirar o sobrenome da identidade. Ela era super humilhada na cidade onde nasceu por causa do sobrenome.
_ E qual era esse sobrenome afinal?
_ Lembre-se do sigilo.
_ Claro. Qual era?
_ Xereca.
Oscar ri copiosamente e uns dez minutos depois diz, ainda rindo:
_ Não vou participar da fundação!
_ Por quê?
_ Porque vou quebrar o voto de sigilo. Desculpe. Mas... Dá licença que agora vou correr pra casa e zoar muuuuuito a minha mulher!!!  
Tempos depois nasceu o filho deles – OSCAR HAIO COM XERECA JÚNIOR.

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