sábado, 18 de agosto de 2012

ENTREVISTA COM O MÚSICO WANDERSON LOPEZ

Wanderson Lopez, nascido em Minas Gerais e radicado no Espírito Santo. Músico profissional desde 1995, multiinstrumentista, compositor e arranjador. Iniciou seus estudos de violão erudito na FAMES (Faculdade de Música do Espírito Santo) em Arranjo e Orquestração com o Maestro Célio Costa. Possui 4 CDs: “Poemas Brasileiros” (2010), “Violão em Concerto Vol. 1” (2011), “Baobab Trio” (2012) e “Intuitive” (2012). Atuou ao lado de nomes como Kátia Rocha, Tury Collura, Fabiano Araújo, Pedro de Alcantara, Tamy, Ava Araujo, Mario Séve, Victor Biglionne, Roberto Menescal, Fernanda Takai, Negra Li, Nelson Farias, Carlos Martau, Chico Amaral, Tatta Spalla, Fausto Borém, Gabriel Grossi. Atualmente, leciona violão na escola de música AMP. Desenvolve um projeto didático baseado na pesquisa da música erudita contemporânea e música popular brasileira, intitulado – “O Violão Brasileiro, Estudos Contemporâneos”. Confira, abaixo, a entrevista com o grande músico:

1 - Olá, Wanderson. Primeiramente, como você vê o lugar do seu violão dentro da tradição do violão brasileiro? A que linhagem (ou a que linhagens) você acredita estar filiado?

Resposta: Uso um violão de 8 cordas, com uma corda aguda no lugar da sétima corda que seria grave, isso me dá a possibilidade de um violão mais contrapontístico e com uma sonoridade mais moderna. Experimento várias estéticas musicais, sem me tornar fechado sobre elas, criando um panorama musical mais flexível e pessoal, que identifiquem um lugar onde meu violão se revela através de uma linguagem rica em cor, ritmos complexos, virtuosista e espontânea, criativa e intuitiva, calcada em árdua pesquisa e ao mesmo tempo lúdica, uma música que expande as barreiras de gêneros musicais ao mesclar música erudita, música popular brasileira e jazz moderno, mostrando que há senão beleza entre essas fronteiras – tão híbrídas, próximas e que podem ser exemplificados também nas obras de compositores como Egberto Gismonti, Baden Powell e Sérgio Assad.

2 - Você conseguiria traçar os pontos mais marcantes de sua formação, que ajudaram a definir seu estilo?

Resposta: No início aos 12 anos, estudei música erudita, mas logo depois tocava em rodas de samba, e ao mesmo tempo participei de uma Big Band tocando clássicos do jazz; ainda adolescente tive a sorte de cruzar várias correntes estéticas e estilísticas: a música de Raphael Rabello, Milton Nascimento, Radamés Gnattalli e Heitor Villa-lobos. Mais tarde me aprofundei no jazz moderno e música erudita contemporânea, Béla Bartók, Léo Brower, Olivier Messiaen. Carlos Domeniconi e Dusan Bogdanovic abriram definitivamente minha mente para uma música livre, interessante e emotiva.


3 - A tradição do instrumento no Brasil é fortíssima e tem grandes nomes entre seus representantes - dos cancionistas João Bosco e Gilberto Gil ao virtuosístico Raphael Rabello -, como afirmar alguma originalidade num terreno tão explorado? Ou melhor, que caminhos você busca no instrumento?

Resposta: Busco uma linguagem com base no legado dos grandes violonistas brasileiros, mas ao mesmo tempo absorvo jazz moderno, impressionismo e música oriental. Acredito na pesquisa incessante, mas também aposto no lúdico, algo como um desejo de vitalidade, uma procura pelo inesperado que possa despertar afetos em mim e consequentemente no público, envolvendo-os em uma trama: cor, infância, sensações e ambientes descritivos que transportam o ouvinte no momento da audição.

4 - Para além da tradição brasileira, quais são suas referências? Pode citar nomes de violonistas, músicos de outros instrumentos, bandas e mesmo gêneros?

Resposta: Ouço e pesquiso Carlo Domeniconi, Egberto Gismonti, Brad Mehldau, Bobo Stenson Trio, Christian Scott quintet, Dusan Bogdanovic, Astor Piazzolla, Roland Dyens, Léo Brower e Alberto Ginastera. Estou sempre ouvindo música Cubana, Balcânica, Africana, Indiana e das Ilhas do Atlântico, essas são minhas fontes de pesquisa.

5 - Temos algumas matrizes do violão brasileiro fortes, que podem ser representadas em alguns nomes: Baden, Guinga, João Bosco, Raphael, Delmiro, Gil, mesmo Jorge Ben Jor. Como você avalia o cenário do violão brasileiro hoje? Quais dessas matrizes se afirmam com mais força?

Resposta: O cenário é muito prolífero, temos muitos intérpretes e compositores. Pessoalmente, acho que o Baden Powell continua representando o estilo brasileiro de tocar violão: choro, jazz e música erudita executados com sofisticação e vigor técnico marcantes.



6 - Como você vê o diálogo entre tradição e renovação no violão brasileiro hoje? Como ele se dá?

Resposta: Pode-se dizer que a música vive das tradições, da mistura de diversos estilos e da união de diferentes culturas. Uma renovação genuína se dá quando o estudo, o amor a arte e a pesquisa conduzem à um retorno às obras dos grandes compositores brasileiros: é importante um entendimento da obra, para em seguida uma desconstrução desse material e possibilitando uma nova direção. Existe material abundante deixado por Heitor Villa-lobos, Radamés Gnattalli, Edino Krieger, Marlos Nobre, e tantos outros que ainda estão sendo descoberto aos poucos.

7 - Você consegue identificar diferenças regionais, características marcadamente de alguma região no violão brasileiro contemporâneo?

Resposta: Atualmente, essas informações se misturam: choro, música mineira, baião, maracatús, maxixe, chamamés, frevos, jongos; é um caldeirão sonoro, e isso é interessante porque contribui para o novo; estéticas e diferenças regionais existem, mas revitalizam e perpetuam o violão brasileiro.

8 – Quais são seus próximos projetos? Alguma apresentação especial?

Resposta: Então, viajo no dia 22 de agosto para Europa para mais uma turnê internacional, dessa vez na Itália e na Inglaterra. Aqui vai o link do festival na Itália, no qual sou uma das atrações no sábado, num dia super especial: http://www.youblisher.com/p/392067-PiorAcoustic-2012/






Nenhum comentário:

Postar um comentário