sábado, 29 de setembro de 2012

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA



Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica "Laurinha": 

Laurinha


Mas como seô Quintas Raspa Tudo foi preso? Ele era um homi de afiança creditada em nós, não careceria de ser enjaulado não! Fez coisa boa na nossa chã, trouxe tantos cantor bom para melodiar nos ouvidos de nós, como o Camargo e Lulu, pensou no social, nós sempre temos farinha e água quente pra comer. Não carecia de prender... Tinha conspeito forte na existência daquele homi de fortes mandos aqui na cidade. E agora seô Mané, o que vai ser de nós. A verba secou, a cesta acabou e o cem pila avoou feito sabiá da praia.

Estudar pra quê? Não existe o necessitado da avença da escrita em nós! Já sabemos escrivinhá a primeira letra do nome, tá bom! Agradeço a Deus pai por isso! Tem homi de mandos aqui na cidade que não sabe decifrar as escrituras das letra da lei. Estrada de chã é comum, se sente mais gente e que o pó está em tudo e que pó há de ser todo verme de gente do mundo, então a baforada de terra na cara faz nós ver que os vivente é tudo ser morrente, neste mundão de Deus.

Se as nojeira do corpo bóiam entre nós, é a vida, cada pobre desindivido tem sua cruz pra carregá feito boi velho que é entregue às piranha. Surgimos neste mundão que é do avesso, nascemos pobre e vamos morrer podre, cada um leva a sua sina nas costa e fica sem reclamar.

Laranja, num sei o que é isso não, só conheço aquela de chupar, não carece de me explicá no miudinho. Tira uma foto bem bonita, não quero ficar feia no jornal, sempre me falaram que eu era feita pra ser capa de revista de ordenha lá da cidade. Ah meu nome é Laurinha.

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