sábado, 29 de setembro de 2012

LICENÇA PARA CONTAR: SANDRO BAHIENSE


Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião, contos e máximas. Tais trabalhos podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/. Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas. Confira, abaixo, o conto “Vestida de branco”:

VESTIDA DE BRANCO

Rio de Janeiro, anos trinta. Vicente caminhava pela Rua Barão de Itararé. Estava de terno de linho cinza, cravo na lapela, sapato branco, brilhantina no cabelo, elegante como nunca estivera. Estava elegante e radiante, pois finalmente iria à casa de Alzira.

Além de elegante e radiante, estava nervoso, afinal era a primeira vez na casa dela. Mas não se abatera. Pegou o bonde e se encaminhou para o bairro da Lapa. No caminho ensaiara o que diria aos outros convidados que iriam ao mesmo evento.

O calor típico carioca e o nervoso faziam Vicente suar muito, seu lenço branco já estava todo molhado. Ele se preocupou em saber como faria para dar a mão aos convidados com ela suada. Decidiu enxuga-las nos bolsos na hora dos cumprimentos. Também ficara em dúvida se beijaria as senhoras presentes ou simplesmente lhes apertavam as mãos como fazia com os homens. Decidiu por só apertar as mãos, por ser mais respeitoso, afinal era a primeira vez na casa de Alzira, e, portanto tinha que causar boa impressão.

Depois as preocupações foram se esvaindo da mente de Vicente e ele começou a pensar em como seria rever Alzira. Seria a primeira vez que ele a veria vestida de branco.

Sabia que aquele seria o momento mais importante de sua vida, e era por isso que tremia, suava, mas não vacilava. Finalmente chegou a casa de Alzira. Ele, que foi recepcionado pela mãe dela de forma entusiasta, entra e se depara com os convidados. Todos os cumprimentam e ele age de forma tranqüila, tudo corre bem.

A ansiedade agora era em ver Alzira. Ela demora. Vicente começa a observar os detalhes de todos a sua volta: A lapela dos senhores, seus monóculos, seus ternos e até em seus trejeitos quando falavam.

Olhou para o porta chapéus, vendo-os dependurados e se pegando imaginando a quem cada chapéu pertencia. Ouvia atentamente cada barulho de colher nos pratinhos de porcelana onde eram servidos os pedaços de bolo. Olhara até para o bolo, e pela cor do recheio deduzira que ele era de doce de leite, e que o doce ficava em três camadas. Tudo era distração para Vicente enquanto Alzira não chegasse.

Porém neste meio tempo fora interrompido por um senhor de bigodes que veio até ele e disse “finalmente”, “já era tempo”. Vicente engoliu seco e simplesmente respondeu:

_É.

Até que... Finalmente chega Alzira, ela aparece no alto da escada. Todos abrem caminho deixando um corredor para que ela passasse quando descesse. Vicente a achou linda. Linda como nunca estivera segundo sua opinião. Ainda do alto ela vê Vicente, sorri para ele e desce lentamente. Ela estava de vestido longo branco, rodado, com detalhes em prata, flor no cabelo, maquiagem leve, sorriso nos lábios, ar sensual, porém discreta. Caminha sobre o corredor deixado pelos convidados e chega até ele, lhe dá sua mão e diz:

_ Agora que ocê finarmente veio ao meu ilê, Ogum, pudemu começar a sessão espírita!      

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