sexta-feira, 19 de outubro de 2012

LICENÇA PARA CONTAR: SANDRO BAHIENSE




Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião, contos e máximas. Tais trabalhos podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/. Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas. Confira, abaixo, o conto intitulado "A metamorfose por Francisco Everardo":

A METAMORFOSE POR FRANCISCO EVERARDO

Francisco Everardo, 56 anos, era um morador do sertão pernambucano, tinha quatorze filhos, cujo nove ainda moravam com ele, e era viúvo há seis anos. Após mais um dia árduo de trabalho, Francisco deitou-se em sua rede e dormiu, como sempre. Porém no outro dia quando acordou Everardo teve uma grande surpresa. Estava atrás de uma pedra há alguns metros de sua casa.

Sentiu-se diferente, seu corpo agora era verde, tinha calda, quatro patas, e um pequeno coração que batia apressadamente com a descoberta de que não era mais um homem, pois havia se transformado num calango. Só não entendia como aquilo aconteceu.

Por fim Francisco acreditou que aquilo era uma “visagem” de quem estava há muito tempo sem comer. Sua barriga de calango roncava igual à barriga dele homem. Mas estranhamente ao avistar um inseto, destes típicos do nordeste, foi acometido por uma vontade incontrolável de comê-lo, e instintivamente o fez em uma “linguada” só. Ele lagarto tinha o que comer. Com o inseto em sua barriga o nordestino sentiu um misto de satisfação e nojo. Seu lado calango estava satisfeito por ter enchido a barriga, seu lado homem estava enojado, afinal acabara de comer um inseto.

Tudo aquilo era extremamente esquisito para ele. Atônito, Francisco tentava entender o que aconteceu, quando quase foi atropelado pelo seu filho mais velho, Cícero, que chegava de carroça. Logo pensou que Cícero perguntaria por ele, e que, como dariam sua falta, passariam a procurá-lo. Nada disso aconteceu, Cícero foi até sua cisterna, pegou um resto de água barrenta que sobrara e foi embora, sem nem ao menos perguntar por ele. acomo dariam falataele quase foi atropelo pelo seu filho mais velho, Cum insetoe quando detava ,

Lamentou muito, mas ainda acreditou que uma hora dariam de sua falta. Até que sentiu uma pedra que passou a centímetros de sua cabeça. Ela foi atirada por Nazinho, filho caçula de Everardo. Nazinho gritava para os irmãos que pegaria o calango para comê-lo frito e começou a caçar seu próprio pai.
Francisco corria e parava, olhando para ele como que querendo dizer quem era, que estava preso em um corpo de calango, mas o menino afoito por ter algo de comer nem se atentava a nada, somente a sua caça. Vendo que não havia jeito o nordestino correu e se escondeu em uma fresta de uma pedra despistando o menino.

Depois de tudo, mais calmo, Francisco voltou a casa e disfarçadamente observou seus filhos no andamento normal de suas vidas. E percebeu que, até o final do dia ninguém sentiu sua falta. Ele viu que não tinha importância ali e voltou decepcionado para as pedras onde ficara.

Chegando lá ele deparou-se com outro calango, aliás, uma “calanga”. Ele olhou assustado. Ela disse para que ele tivesse calma. Eles se comunicavam sem problema. A lagarto perguntou como ele veio parar ali.

Resignado, Everardo contou sua história, disse que era um homem, que tinha filhos, era viúvo... Ela o interrompeu para dizer que também era viúva, pois um dos meninos dali de perto matou seu marido para comê-lo. A lagarto estava acompanhada de outros três lagartinhos.

Francisco perguntou como era a vida dela e ela respondeu que era boa, pois tinha comida à vontade, porque insetos era o que não faltava, e que água havia bastante, pois gotas eram suficientes para eles. Ela disse ainda que a convivência entre todos os calangos era boa e que tinha uma família feliz e unida. Só lamentou a ausência de um companheiro desde a morte de seu marido. E que a presença dele ali era confortante para todos, terminando por dizer que se ele quisesse ficar que seria muito bem vindo.

Francisco aproveitou e perguntou se havia acontecido algo semelhante ao caso dele, e ela, apesar de querer o contrário, lamentou dizendo que sim, e que no final da noite o calango voltara a ser homem quando assim o desejava de coração.

Everardo se confortou com a notícia em um primeiro momento. A noite foi passando e todos dormiram. No outro dia ao acordar ela se assustou ao ver Francisco ainda como lagarto e perguntou:
_ Você não mudou? O que aconteceu?
E ele respondeu:
_ Pensei durante toda noite e vi que não queria mudar, percebi que, como calango, encontrei outros que gostam de mim, me respeitam e sentem minha falta, posso ter uma família se assim você aceitar, enfim...
_ BOA É VIDA DE CALANGO!!!             

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