sábado, 19 de janeiro de 2013

ASSIS CHATEAUBRIAND: PERFEITO NA LITERATURA POLÍTICA



Assis Chateaubriand foi um homem fascinante e polêmico. Fundou os Diários Associados – durante décadas – o maior grupo de comunicações do Brasil. De um lado, as qualidades inerentes aos grandes homens: inteligência, advogado competente,  jornalista (escreveu 11.870 artigos no período de 1924 a 1968), espírito empreendedor, estilo visionário,  pioneiro da TV no Brasil,  fundador do MASP-Museu de Arte de São Paulo  (onde implantou o “estilo” Chateaubriand), membro da Academia Brasileira de Letras,  embaixador do Brasil na Inglaterra (1958-1960) e a presença forte em todas as áreas.
Dooutro, a personalidade ambiciosa e dominadora, o chantagista, o tarado, o ladrão, o caloteiro – adjetivos que os desafetos cunhavam.
O seu fraseamento impecável cumpria duas finalidades: encantar ou intimidar. Dependia do caso.

Fernando Morais, no livro Chatô, o Rei do do Brasil – escreve: “O médico e educador Miguel Couto (1865-1934), disse: ‘Embora nunca tenha produzido uma sílaba de ficção, Chateaubriand era um literato de calibre muito superior ao da maioria dos imortais da Academia’”.
Escreveu, no contexto da literatura política, o livro Terra Desumana – com um subtítulo provocador: A vocação revolucionária  do Presidente Artur Bernardes. Crítica feroz ao governo (1922-1926) do presidente Artur Bernardes. Ele governou o país através do dispositivo constitucional chamado Estado de Sítio, que sobrepunha os poderes do governo em relação aos direitos e liberdades individuais. Isso decorreu da instabilidade política vigente. Esperto, Chatô lançou o livro após o término do mandato do presidente. Caso contrário, a edição teria saído de circulação.

O livro de Chatô seria incensado, após a morte do jornalista, por um dos maiores críticos literários do Brasil, Wilson Martins, autor da obra História da Inteligência Brasileira, 7 volumes – já a caminho de tornar-se rara – e que abrange o estudo da Literatura Brasileira  ( desde 1550). Vejamos, então, as suas conclusões na página 423, volume 7: “...livro mais devastador escrito contra Artur Bernardes ou , de fato, contra qualquer presidente brasileiro. É um dos panfletos mais brilhantes de nossa literatura política, escrito com inteligência vibrante e incomparável agudeza, análise profunda de um caráter e desenho de uma mentalidade  como jamais se havia feito no país – e como como ninguém voltaria a fazer depois dele...”.

No final do seu livro, Fernando Morais, biógrafo de Chatô, relata com muita elegância e humor, algo mais ou menos assim:
“No velório de Chatô, o Diretor do MASP, Pietro Maria Bardi, expôs três obras de arte: A Banhista com o cão grifo, de Renoir, com os seios descobertos. Retrato do Cardeal Cristóforo Madruzzo, organizador do Conselho de Trento, do pintor Ticiano e o retrato de d. Juan Antônio Llorente, secretário da Inquisição espanhola, pintado por Goya.Questionado pela cúpula dos Associados, Pietro Bardi disse a um dos diretores:
-Mas doutor, são as três coisas que ele mais amou na vida: o poder, a arte e mulher pelada”.





Augusto Aguiar é gerente aposentado dos Correios. É blogueiro: wwwm-cultural.blogspot.com e assina artigos para jornais e sites. Reside em Bebedouro SP. E-mail: augusto-52@uol.com.br.


Um comentário:

  1. Obrigado pela publicação da matéria. Senti-me muito honrado. Um grande abraço. Augusto Aguiar.

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