quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

CRÍTICA DO FILME 'AMOR'

É possível criar um filme interessante, inesperado e surpreendente tendo basicamente um apartamento como cenário? Essa foi a missão do diretor Michael Haneke quando dirigiu 'Amor' filme concorrente a quatro Oscares. Veja a crítica do Outros 300 em relação ao filme.

Amor

Um apartamento, uma ótima atriz e o fim
'Amor' leva a reflexão sobre os nossos fins de forma comovente e reflexiva

Um filme que fala sobre o fim de nossas vidas e de como temos que nos preparar sobre ela. Essa é o tema de 'Amor' filme dirigido pelo austríaco Michael Haneke e que, acreditem, não está em cartaz nos cinemas capixabas.

Não mais que um par de olhos

O drama se passa quase que inteiramente dentro de um espaçoso apartamento. Os móveis lá presentes e a decoração mostram que sua moradora tem bom gosto. Há arte por todos os lados, móveis de madeira pesada e uma preocupação especial com a qualidade da música, a grande paixão do casal idoso que ali vive. O aparelho de som moderno - mas ainda um CD player, físico - destoa sutilmente das cadeiras antigas e das "mantinhas" que aquecem os velhos em seu companheirismo de décadas.

Amor

A trama decorre sobre um casal francês octogenário precisa ajustar sua rotina quando ela tem um derrame que limita seus movimentos e ele passa a viver em função dos cuidados médicos dela.

Claro que o filme vai muito mais além disso, uma vez que após o derrame de Anne, seu marido Georges tem de passar unicamente (a filha deles mora em outro país) a cuidar a dela, o que coloca em cheque o amor e o cuidado dele para ele, e o quanto ela não quer que o fim de vida de seu amado seja ainda mais penoso a tendo como fardo.

Amor

A vida passando por seu par de olhos, suas estórias e amigos que eventualmente vem visitá-la e ajudar George, dão ao filme uma espécie de visão documental de vida, regada a belas imagens e uma linda trilha sonora. O filme é absolutamente comovente e, garanto, não é chato apesar do tema assim sugerir.

Um show de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva

Impressionante, esse é o mínimo adjetivo que podemos utilizar para a atuação de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, os protagonistas do filme. Em 'Amor' eles são um casal de músicos aposentados que seguem desfrutando a cultura erudita enquanto soam verdadeiramente apaixonados, com uma intimidade adquirida ao longo de uma vida.

Amor

Mas é quando Anne sofre um derrame que o trabalhos de ambos chega ao ápice do talento. Trintignant simplesmente arrebenta como o marido zeloso e amoroso que sofre com o definhamento de sua mulher (mas não a larga ou deixa de admirá-la em nenhum momento) e principalmente Riva, que demonstra por muitas vezes somente no olhar a tristeza de alguém que vê o fim se aproximando e que se entristece por todo o fardo que se tornou a seu amor. Merecidamente Riva concorre (com grandes chances de ganhar) ao Oscar de Melhor Atriz.

Falando em amor, aliás, Haneke apresenta-o de forma objetiva, deixando pieguismos baratos de lado. Ele é posto a prova quando ela começa a lenta descida até o inevitável fim, em que, aos poucos, tudo desaparece, o bom-gosto, a dignidade, a identidade. Só o amor não evanesce - e Georges segue ao pé da cama, cuidando da esposa com devoção pragmática, firme a uma promessa.


O fim

Michael Haneke é brilhante em suas escolhas, da abertura - que estabelece o que devemos esperar do filme - às cenas cotidianas de tratamento e os pequenos momentos de absurda tensão, que nesse cenário doloroso ganham proporções épicas, como o confronto com a enfermeira ou as discussões com a filha (Isabelle Huppert). A direção de atores é impecável, bem como suas escolhas estéticas e o roteiro incisivo. Como o protagonista, conhecemos o final, sabemos o que esperar da história, mas quando o golpe chega, ele é certeiro e esmagador.

Em cartaz em

Como dito anteriormente 'Amor', a não ser que haja uma grande comoção dos fãs capixabas, não deverá entrar em cartaz no estado. Mas você pode assisti-lo em alguns sites como o assistirfilmes.net, por exemplo (basta jogar no Google que você acha). Uma pena termos de indicar e recorrer a isto, mas enfim. 

Trailer

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