segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

CRÍTICA - PRENDERAM O '50 TONS DE CINZA'!


Um juiz do interior do Rio de Janeiro, da cidade de Macaé chamado Raphael Baddini de Queiróz Campos, mandou recolher todos os livros considerados de "teor erótico" das livrarias. O motivo: Evitar que crianças tivessem acesso às histórias. O grande alvo do juiz era o super sucesso '50 Tons de Cinza'. Por ironia não havia nenhum exemplar da obra na livraria em que livros foram recolhidos.

A vontade de tal juiz era que, a partir de então, todos os livros que se consideram eróticos sejam lacrados, ou seja, o simples ato de olharmos a orelha do livro, para sabermos se a estória nos interessará, ou não, seria impedida.

Gostaria mesmo de acreditar que tal medida seria eficaz no nosso país, mas infelizmente não consigo sequer vislumbrar algum grupo grande de crianças interessadas em entrar numa livraria e mais especificamente ainda correr direto às prateleiras dos livros de sexo. Até porque não me recordo de nenhum livro sobre sexo que tenha capa com exibição sensual (corpos nus, por exemplo). O próprio '50 Tons' mesmo tem uma gravata na capa. Duvido que alguma criança queira ler um livro que tenha uma gravata na capa.

Corpo de Walmor Chagas é cremado em São Paulo; ator teria cometido suicídio - 1 (© AgNews)

No mais, tal estapafúrdia medida, mais uma vez, teima em tirar dos pais a responsabilidade pela instrução e indicação cultural que estes tem de dar a seus filhos. Devidamente instruída pelos seus responsáveis, é muito remota a possibilidade de uma criança querer, mesmo tendo a típica curiosidade infantil como vilã, desobedecer uma ordem só por causa de uma estória que fatalmente não irá entender.

Num país em que temos um ínfimo número de leitores ativos, proibir um dos poucos motivos de leitores eventuais de se procurar algum livro é, no mínimo, jogar contra a luta, ingrata, de se conseguir criar o hábito da leitura em cada brasileiro.

'50 Tons', 'Crepúsculo' ou qualquer outra obra menor, mas que, recheada de marketing e propaganda, atraia leitores eventuais (aqueles que não tem o hábito da leitura constante) tem de ser ovacionada e, digo mais, incentivada, pois essa é a única maneira de vislumbrarmos a possibilidade deste leitor que, a partir da leitura de algo mais simples e popular, tenha, no futuro, o gosto pelo ato de ler e que, por consequência, comece a se interessar por títulos mais complexos e construtivos, podendo em longo prazo, fazer uma sociedade mais crítica e pensante.

No mais, gastei meu precioso tempo, a título de curiosidade e profissão, lendo tal livro. Lhes garanto: Uma cena de beijo mais caliente de Malhação, muitas vezes, é mais sensual do que trechos do festejado '50 Tons'. E nisso nem vou citar trechos de 'Crepúsculo' (coqueluche entre pré-adolescentes) pra lá de sexuais, mas isso o senhor doutor juiz lá de Macaé não deve estar interessado e informado.

Até porque tal medida só mostra a quais figuras hipócritas e despreparadas nosso país está entregue. Tivesse um mínimo de instrução cultural, nosso juiz perceberia que o que desvirtua nossas crianças não são livros de ficção. O que desvirtua nossas crianças, senhor juiz, é a violência, fome, miséria, falta de saúde e educação. Falta de educação esta que poderia ser curada, se lêssemos mais, mas o senhor, doutor senhor juiz, quer impedir...

Um comentário:

  1. Excelente crítica, parabéns! É muito bom saber que neste país onde educação é um gasto e não investimento ainda existem pessoas capazes de interpretar um fato e analisá-lo, indo além da informação superficial e do falso moralismo brasileiro.

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