sábado, 19 de janeiro de 2013

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA


Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “Discutindo a relação”:

Discutindo a relação

Precisamos conversar sobre algo que não pode esperar. Pode ser amanhã? Naquele lugar de sempre? Recebera a enigmática mensagem em seu smartphone. Era do seu namorado, iriam discutir a relação. Será que ele quer acabar com o namoro? Será, meu Deus, será?

Naquela noite não conseguiu dormir, uma dor assolava o seu peito.
Digitou infindáveis mensagens se desculpando, outras xingando-o de cachorro estúpido, mas no fim desistiu de mandar. Até cogitou a hipótese de tomar uma cartela inteira de paracetamol ou um vidro de criolina, mas desistira. Cantarolando Let it be, ela deixou passar os minutos, as horas. Ao nascer do sol, estava com olheiras profundas. Não pregara os olhos durante a noite.
No banheiro pensava que ele terminaria tudo. Vai me abandonar, me largar como um velho sapato usado. Estava resoluta, iria se afogar entre os sais de banho de sua banheira.

O problema, no entanto, é que ela não tinha banheira, seu quarto nem era suíte... Nem se afogar em paz ela poderia, enquanto estaria engolindo litros d’água no chuveiro, alguém estaria esmurrando a porta. Sai do banheiro, caralho, tô atrasado pra trabalhar!
Desistiu da ideia e foi para o derradeiro encontro. Ele estava lá com a sua camisa meio amarrotada, quando a viu, levantou os braços para chamar sua atenção. Pensou em se ajoelhar aos seus pés e se arrastar como um velho pano de chão a implorar – Não me abandone! Esqueceu da ideia, pois a lanchonete estava cheia. Desconfiada, senta-se ao lado de seu amado, após trocarem beijinhos.

Conversam sobre coisas à parte até que impera o silencio entre eles. Aquele mesmo silêncio que prenuncia verdades que não podem ser ditas. Ele, quebrando o silêncio, segura a sua mão como se no gesto falasse para que ela fosse forte.
– Então, amor, temos que acertar uma coisa da qual dependerá o futuro de nossa relação. Fala o seu querido amado com ar sério e compenetrado.
Ela, segurando a lágrima, balança a cabeça, concordando. Sentindo uma pontada no coração, como uma punhalada.
– O que fiz? Me perdoe, por favor? Suplica ela aos berros e choros.
– Não, amor, é que...

Ele olha fundo nos seus olhos procurando palavras para que não a magoasse. Quando ele fez fôlego para falar, ela aos prantos chegou à suntuosa conclusão.
– É outra? Você tem outra e não me ama mais.
– Claro que não, amor. Bem... é que... você sabe, o amor é feito de vontades, de coisas que queremos...
 Ela, entre aliviada e curiosa, salta da cadeira e quase se ajoelha aos seus pés em agradecimento.
– Peça qualquer coisa que eu aceito, amor.
– É uma coisa que não dá mais pra segurar, uma coisa que você provavelmente não vai liberar.
–Não, amor, eu faço qualquer coisa pra não te perder, tudo!
Ele, aliviado e apreensivo, respira fundo e pega nas suas mãos. Ela sente as mãos dele suadas e trêmulas.
– Ah não aguento mais e confesso. Não aguento mais segurar! Bem... Ou você me deixa peidar perto de você ou terminamos tudo!
– Como? Pergunta ela desconfiada, pensando que fosse uma brincadeira de seu amado.
– É isso que você ouviu. Quero peidar na hora que me der na telha.
Ela o olha e vê que ele não está brincando. Tem o olhar firme como quando toma uma decisão que não voltará atrás. Por isso resolve aceitar, para não perder a pessoa que ela mais ama neste mundo. Ele, num sorriso, a beija e exclama:
– Pra comemorar, vou começar desde agora!
E um grande estrondo ecoa pela lanchonete, deixando-a vermelha de vergonha.


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