quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

LICENÇA CRÔNICA: "O MONSTRO", DE CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA




Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “O monstro”:


Meu sonho é cortar de mim um pedaço... Extirpar de mim a coisa que me faz perder a felicidade. Sou muito infeliz, boto medo nas mulheres. Tenho um monstro entre as pernas. Até aquelas que dizem que gostam de cano alto e grosso calibre, quando veem minha carabina, se empinam e saem batidas. Já tentei de tudo... Até boneca inflável já comprei, em uma ele não entrou e na outra, ai meu Deus, a boneca estourou! E dei com o nabo no chão.
Ando muito necessitado. Carente. Já tentei com prostitutas. Uma delas, furiosa e horrorizada, jogou o dinheiro na minha cara.

– Por dinheiro nenhum do mundo você vai pôr este troço em mim. Dizia a Bia, ou era a Janete? Não importa!
Quando todas viam o tamanho da bisnaga saíam correndo, deixando-me na mão. Já estou cansado de usá-la. Na minha mão aparecem intermináveis calos, produto deste fastigioso trabalho narcísico de me dar prazer e alegria. É duro ser extremamente dotado neste mundo... A vida foi feita pra quem tem pouco volume e tamanho diminuto.
Não sei como resolver a minha tragédia humana. Já pensei em canivete e facão, mas, ai de mim! Não me corto não, tenho horror a sangue escorrendo e a dor de existir caindo no chão. Ao colocar o tamanho do meu problema para o doutor ele caçoou de mim.

– Cortar? Não, meu caro, não é pra tanto, você apenas é sortudo demais...
Sortudo? Eu?! Acho que o médico era um sortudo diminuto quase desaparecido em suas ceroulas abundantes. Fiquei a ver navios, na verdade, apenas o mastro. Esta vela que não veleja por nenhum vendaval, fica à deriva sem fincar em nenhuma terra vista. As que dizem que gostam de homens bem dotados, quando veem o meu dote, queixam-se de dores na glote. Até hoje apenas uma se aventurou, a pobre não está mais entre os vivos... Trabalha como agente funerária, tem horror a vivos e ao meu volume.

– Tá louco? Ver você só quando for pra te preparar pro velório!
Mais uma vez fiquei na mão... Eterna agonia de viver, meu Deus!
Um dia chamei uma profissional em minha casa, quando ela viu o negócio, arregalou os olhos e, assustada, encostou-se no canto do quarto.
 – Nunca em dez anos pegando no duro vi um negócio desses...
Achei que era um elogio e me levantei com o intento de agarrá-la. A coitada saiu correndo pelada pela rua, deixou suas roupas, documentos, seu dinheiro e até hoje nunca mais voltou. Liguei para a cafetina e ela disse que sua antiga funcionária havia abandonado a profissão, abriu uma igreja e agora se dedicava exclusivamente para o nosso Senhor. A moça disse ainda que eu fora um mensageiro do pai para que ela abandonasse essa vida. Logo, eu não poderia mais contar com os seus serviços e com o de nenhuma outra. A cafetina me via agora como um risco para os seus negócios.

Volto para a mão como se fosse um destino mal lido, ou um fim já anunciado desde o nascimento. Para dar um clima mais pessoal a essa relação, chamo minha mão de Pandora, pois ela desliza sobre a desgraça de minha vida, a minha caixa de desgraça, ou seria cacete?


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