sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

LICENÇA PARA CONTAR: LUCIMAR SIMON


Lucimar Simon nasceu em Linhares – ES em 1977. Suas influências são diversas perpassando por autores de Clássicos da Literatura Brasileira e Estrangeira. Busca ler e acompanhar a Literatura Contemporânea bem como os ditos “poetas marginais”. Seus textos compõem uma escrita simples dedicada a fatos cotidianos, memórias, experiências acadêmicas e sua vida pessoal, e podem ser conferidos em Antologias e Coleções Poéticas da Câmara Brasileira de Jovens Escritores em: “Novos Talentos do Conto Brasileiro”, “Contos de Outono”, “Livro de Ouro do Conto Brasileiro”(2009) e “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Nº 54”, todos publicados em 2009.  Lucimar Simon é Graduado em História pela UFES. Pós Graduado em História e Literatura – Texto e Contexto pela UFES. Confira, abaixo, o conto “O incidente, a morte”:

O INCIDENTE, A MORTE

Tudo começou na rua principal próximo á escola, ela correu pela calçada e dizendo que não o queria ver nunca mais, então ele com um instinto animal e muito apavorado saltou o muro de casa e alcançou-a na esquina. Tinha uma lamina de cozinha cortante em punho a derrubou e investiu diversos golpes contra seu frágil corpo. Os gritos chamaram a atenção dos vizinhos, mas seus pedidos de socorro foram em vão quando os primeiros a se aproximarem notaram a fúria do agressor, que não pretendia a deixar com vida.

Não adiantava gritar, fugir já não era uma realidade a ela alcançável, logo não mais revidava aos golpes e abandonada foi no lugar pelo pai de seus três filhos de menos de doze anos o mais velho e pouco mais de dois anos o mais novo. Morava o casal e os filhos em uma casa mal acabada, com poucas divisões internas e com telhado precário, coisa que se fazia a presente realidade de quase todo o bairro.

Deixando-a no chão sem vida, fugiu o quanto antes possível sem deixar nenhum vestígio para que alguém o seguisse, desviou por uma rua escura numa rapidez de um ladrão, era o que ele é, um ladrão de vida, com ele leva a arma do crime que foi em um pequeno corpo foram deferidos setenta e cinco golpes.

Era dia de festa no bairro, logo poucas pessoas presenciavam o fato, mas após o ocorrido a aglomeração foi geral, ás vezes o povo adora ver a desgraça dos outros, então os rumores foram constantes alguns sobre o agressor e outros sobre à vitima. A notícia espalhou-se pelo bairro, minutos depois a aglomeração foi maior. Alguém acionou a policia que logo chegaram, testemunhas diziam e narravam os fatos. As indagações dos curiosos eram muitas. Quem? Onde? Por quê? Fugiu? Mas como? E os filhos?

Logo a conversa tomou ares de lembranças extras, antigas, coisas que aconteceram no mesmo bairro, que eram lembradas também de bairros vizinhos e se seguiam os comentários enquanto ainda no chão escorriam as ultimas gotas de sangue do corpo da vitima que exausta não sobrevivera ao confronto com seu executor implacável e sem piedade.

Quais as motivações que levariam a atitude daquele crime brutal, o que faria com que a mãe de três filhos fosse vitima do seu próprio companheiro, o que determinaria por meio das mãos do agressor que ali naquele momento seria o fim de sua vida com ser vivente deste mundo, embora os curiosos já borbulhassem, poucos arriscavam palpites, traição? Drogas? Loucuras? Ciúmes? Não se sabe ao certo.

Que realidade cruel, após receber sua sentença a vitima era outra vez morta pela escarnação e confissões a “pé de ouvido” dos vizinhos e arreadores da situação. Boatos e outros comentários, típicos de quem sabe o que fala nestes momentos.

Quem é? Quem foi? Quando? Por quê?

Para esse assunto chegou o líder comunitário, alguém sensato? Parece que sim foi dizendo para as pessoas circularem e deixar a perícia e a policia trabalhar. Seu José era quem organizara a festa do bairro. Na verdade aquela morte era mais uma coisa que desviava as pessoas das barracas de bebidas e comidas da festa que seu José organizara. Daí a presa na dispersão do corpo e das pessoas ao redor da situação.

A morte! Senhoras e senhores a morte tem muitas faces, não queira encará-la do modo mais cruel, mas qual seria o modo mais cruel? Qual a importância de uma pessoa após sua morte? Quando uma pessoa está realmente morta? E quando a morte surge na esquina, qual sua reação? A morte chegou para essa mãe de três filhos e foi uma morte cruel, uma morte sangrenta, violenta, uma morte de momento, uma morte sem justiça, se é que ela existe na morte, será que a própria morte é justiça? Ou a justiça deveria ser a morte? O agressor ainda foge, ou não foge, mais a justiça calou-se, e sua liberdade ainda gera sentimento de injustiça, e a morte? O que dizer sobre a morte? O que você diz Morte? Defenda-se na sua crueldade, na sua serenidade, na sua legitimidade. Defenda-se Morte.


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