segunda-feira, 18 de março de 2013

A SEGURANÇA FRIA DOS FATOS CONCRETOS‏.




A história contada em “Procurando Sugar Man” se reveste de magia e profundo sentimento

Todos os anos escritores ao redor do mundo tentam recriar a magia dos contos de fadas, seja por inspiração aliada ao talento ou simplesmente pelo desejo de reconhecimento, de mostrar a que veio. Entra ano e sai ano surgem novas narrativas que inspiram a humanidade a praticar o bem, ou provar que o feijão com arroz é mais importante do que um Big Mac e que ser feliz de bicicleta é melhor do que aparentar alegria a bordo de um Camaro Amarelo.

Como é de se imaginar, não é sempre que esse castelo de fantasia pré-fabricado alcança o coração das pessoas e muitas vezes a culpa não é mesmo do autor; pode ser uma jogada do destino, questões de lugar e do momento, ou simplesmente pode ser que não era mesmo para (aconte)ser. Quantas histórias de amor – ou de terror - nunca foram publicadas? Quantas boas canções nunca foram gravadas? E quantas destas apostas foram feitas para dar em nada?

Em certas ocasiões, a realidade se reveste de uma fantasia poética tão inacreditável que o conto de fadas mais fantástico não seria capaz de alcançar. É o que acontece com o filme “Procurando Sugar Man”, vencedor na categoria documentário, do Oscar 2013. É também o tipo de filme do qual se deve evitar o acesso a qualquer informação antes de assistir, não que a leitura de uma sinopse vá estragar as surpresas que são muitas, mas porque estas potencializam a diversão.

No mundo do entretenimento, a surpresa é um dos segredos para o sucesso, ainda que, como dito no início, não exista regra segura aplicável para este acontecer. Eis uma das principais questões que perpassam esta história original e muito bem contada. Para além desta onda de fama e reconhecimento de talento vem também a atitude do artista com relação a tudo isso, de viver sobre uma base estável de maneira que venha sucesso ou fracasso a vida continua. Quantos deixaram o mundo cruel porque não seguraram essa barra?

A história contada em “Procurando Sugar Man” se reveste de magia e profundo sentimento quando mergulha indiretamente nesse viés da aceitação e da humildade, como a vida dos monges e dos santos. Talvez por isso também em vários momentos se pareça com um conto de fadas, porque nos remete a valores morais tão sólidos e íntegros que nos dias de hoje parecem simplesmente fantasia.

Eu queria escrever um texto que inspirasse as pessoas a assistir essa história sem dizer direito sobre o que ela fala, porque muitas vezes é preciso ter fé em uma ideia, um conceito e não na segurança fria dos fatos concretos (cold facts), de uma informação objetiva. Vem de nossa intuição, de nossa relação invisível com o mundo, vem do desejo de transcender e nada disso se traduz com palavras. 

(Texto de Juca Magalhães)
 

Juca Magalhães é músico, escritor e ex-integrante do grupo “Pó de Anjo”.  É um dos mais requisitados mestre de cerimônias do Estado, com atuação em eventos públicos e privados. Autor do blog a “Letra Elektrônica” e textos publicados no Caderno Pensar, do Jornal A Gazeta. É autor dos livros “O Livro do Pó” e “Da Capo - De Volta às Origens da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo”. Magalhães também trabalha na divulgação e desenvolvimento de projetos voltados para educação e performance de música, sobretudo canto coral, clássica e popular.

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