sábado, 24 de agosto de 2013

LICENÇA CRÔNICA: ANAXIMANDRO AMORIM




Anaximandro Amorim (1978) é escritor, advogado, bacharel em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e pós-graduado em Direito pela Escola da Magistratura do Trabalho da 17ª Região (EMATRA - 17ª Região). Membro da Associação dos Professores de Francês do Estado do Espírito Santo (APFES), do Conselho Estadual de Cultura, da Academia Espírito-Santense de Letras e da Academia de Letras Humberto de Campos, de Vila Velha/ES. Confira, abaixo, a crônica “Quem você mandaria para Marte?”:

Responda rápido, caro leitor: quem você gostaria de mandar para Marte, numa viagem só de ida? A sua sogra? O seu vizinho? O amigo mala? Ou, até mesmo, a sua mulher (ou o seu marido)? Aposto que muita gente já sonhou com isso. E se eu lhe disser que isso, agora, virou realidade? Pois é: foi lançado, no final do mês passado, o projeto "Mars One", organizado pelo cientista holandês Bas Lansdorp, que pretende colonizar o planeta vermelho daqui a alguns anos... numa viagem sem volta! É, amigo leitor... é a vida, mais uma vez, imitando a arte!
Para quem se interessar possa: Marte fica a uma vez e meia a distância da Terra ao Sol. É um dos quatro planetas terrestres, ou seja, cuja superfície não é gasosa. Lá, o ano é quase o dobro da Terra, mas o dia tem praticamente a mesma duração: 24 horas. O solo é avermelhado por causa da hematita, encontrada aí em abundância. Tem duas luas (Phobos e Daimos) e verões até 20 graus, no máximo, quando a temperatura não está sempre abaixo de zero. Isso mesmo: faz um frio danado por lá! Segundo Lansdorp, a viagem durará seis meses! Imagine só! Se eu passo mais de duas horas viajando e já fico desesperado... Deve ser como um cruzeiro lá dentro, com a vantagem de que ninguém enjoa. E pode ver as estrelas, de pertinho!
Seja como for, o planeta vermelho sempre mexeu com o nosso imaginário: Os egípcios já o observavam, chamando-o de "a estrela vermelha"; mas foram os gregos, graças a Hiparco, que descobriram que o corpo celeste era, na verdade, um planeta - e batizaram-no com o nome do Deus da Guerra. O aristocrata norte-americano Percival Lowell foi o primeiro a especular sobre vida inteligente, influenciando o escritor. H.G. Wells a escrever o romance "A Guerra dos Mundos", em 1898, sobre uma invasão marciana na Terra. Anos mais tarde, em 1938, o ator e diretor Orson Welles fez a famosa adaptação para o rádio, causando pânico nos EUA a abrindo caminho para uma série de versões cinematográficas, dentre filmes de ação ("O Vingador do Futuro", "Missão Marte") a até comédias (como a impagável "Marte Ataca").
A viagem para Marte já conta com mais de 100 mil inscritos! A passagem custa, em média, de 15 a 30 dólares, bem mais barato que ir de Vitória ao Rio. Segundo dados oficiais, gente do mundo todo está interessada, dentre norte-americanos, chineses, mexicanos... e até brasileiros. É, acho que tem muita gente querendo se mandar deste país.  Em tese, viver em Marte teria muitas vantagens: ainda não há engarrafamento, nem flanelinha, tampouco poluição. Também não tem novela,  micareta ou cerveja. Inferno ouparaíso? Depende do ponto de vista. Mas, certamente, o que não há é propaganda enganosa: todo mundo sabe que não tem como voltar. Só ninguém comentou que o nome disso é suicídio. Ou picaretagem, porque é muito fácil pôr um punhado de gente numa espaçonave e ficar com a grana pra gastar tranquilo, aqui na Terra.
Em todo caso, estou pensando seriamente em comprar uma passagem. Não, leitor, não estou a fim de me mandar pra Marte. Prefiro ficar por aqui, mesmo. Afinal, não troco minha ilha (Vitória) por nada deste mundo - ou do outro. Penso em distribuir umas passagens pra algumas pessoas. É, amigo leitor, eu também tenho a minha listinha - mas prefiro ser discreto e não revelar o nome de ninguém. Porém, se você, que está lendo esta crônica agora, receber, dentro de alguns dias, uma passagem só de ida para Marte, saiba que não é trote: é presente, mesmo. E, como é feio fazer desfeita, aceite. Afinal, o embarque é só em 2023, dá muito tempo pra arrumar as malas. Cubro todas as despesas, inclusive, e levo você lá para desejar uma boa viagem e para me certificar direitinho que você não volta nunca mais.

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