segunda-feira, 30 de setembro de 2013

AGENDA DA SEMANA

Confira o que teremos de melhor culturalmente no estado na agenda da semana do Outros 300. Destaque para os shows de Badauí, Japinha e a Big Beatles, Ney Matogrosso, Tiê e Sambo, para a peça 'Palavras de Mulher' e para a estreia nos cinemas do nacional 'Mato sem Cachorro'. Confira a agenda completa.

Segunda-feira


Marcus Macedo

Marcus Macedo
O melhor do pop rock e MPB você ouve nesta segunda no Moqueca Bar (Rua Jorge Risk, 212, Parque das Gaivotas, Vila Velha). A partir das 20 horas, o baiano Marcus Macedo embala a noite da galera. Em seu repertório grandes nomes da música como Chico Buarque, Lulu Santos, Djavan, etc.

Cinema em casa. Filme Por Amor e Honra
Durante a Guerra do Vietnã, um soldado sabe que seu amigo vai voltar escondido para os Estados Unidos para tentar reconquistar a namorada. Ele decide voltar também para ajudar e retornar a tempo para cumprir sua obrigação militar, mas o plano não funciona tão bem assim. Telecine Premium e Premium HD as 22h


Divulgação

Série Hostages
Ganhadora de um Emmy e de um Globo de Ouro como Melhor Atriz de Comédia por “United States of Tara”, em 2009 e 2011, Toni Collette volta à TV como protagonista de uma série em “Hostages”, que estreia hoje no Brasil, às 22h25, no Warner Channel. Desta vez, no entanto, a atriz deixa o humor de lado e mergulha no drama. Criada por Jeffrey Nachmanoff e Jerry Bruckheimer, “Hostages” usa fortes elementos de suspense político. Na série, Toni interpreta Ellen Sanders, uma médica que é escolhida para operar o presidente dos Estados Unidos e passa a ser cercada e pressionada pela mídia.

Série Copa Hotel
Estreia da segunda temporada com o Hotel de volta à ativa depois que Fred consegue um empréstimo para fazer as melhorias exigidas pela fiscalização, mas como bom brasileiro, investiu apenas na maquiagem do prédio. Além da maracutaia para reabrir o Hotel, o primeiro episódio apresenta os novos personagens e a suspeita de que há algo podre na cozinha. GNT as 23h

Terça-feira

X Vitória em Arte

Exposição 'X Vitória em Arte'
Este ano a exposição Vitória em Arte chega à sua décima edição, apresentando ao público um amplo e representativo painel das artes plásticas produzidas no Estado. A mostra reúne trabalhos realizados em diversas técnicas e linguagens, como gravura, pintura, mosaico, cerâmica, escultura, fotografia e instalação. Este ano, a exposição leva ao Palácio Anchieta 110 produções de 96 artistas do Espírito Santo. A Vitória em Arte pode ser visitada do dia 28 de agosto ao dia 06 de outubro, de terça a sexta-feira, de 9 às 18 horas, aos sábados, domingos e feriados, de 9 às 17 horas. A entrada é gratuita.

Série Smash
A série acompanha a disputa entre uma cantora novata e uma artista experiente, mas que até agora não teve chance de interpretar um personagem importante, pelo papel principal em um novo musical da Broadway sobre a vida de Marilyn Monroe. O enredo inclui ainda o conflito entre a letrista e o marido, a produtora e o ex-marido e as ações do diretor chegado a um teste do sofá. Netflix, disponível a partir de 1/10

Série Pé na Cova
Estreia da segunda temporada com um episódio inspirado em Os Miseráveis, de Victor Hugo, quando Ruço salva Clécio de ser espancado na rua por ter roubado um pão. Globo as 23h45

Nova MTV (Estreia)
O canal que entra no ar amanhã terá o cantor e ator Fiuk à frente do programa diário “Coletivation”, que falará sobre cultura pop em geral. O roqueiro Supla protagonizará o reality show “Papito in Love”, no qual garotas disputarão sua atenção e seu coração.

Quarta-feira

Famosos e Fantasmas
Na série que conta histórias envolvendo gente famosa e às vezes nem tanto, é a vez de Linda Blair. Acompanhada da irmã, a garota de O Exorcista descobre algo estranho sobre uma casa na floresta. E Dot Jones, de Glee, fala do seu medo de um fantasma que quer protegê-la. Na BIO as 22h

Série Mike & Molly
Final da terceira temporada quando Mike tenta bancar o cupido e fazer Peggy voltar com Patrick. E ele ainda tem de se livrar de um tornado e uma feira para encontrar Molly. Na Warner as 22h50

Cinema em casa. Filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa: Alvy é um humorista que faz análise há 15 anos e que se apaixona por Annie Hall, uma cantora em início de carreira, no clássico de Woody Allen. Telecine Cult as 22h

Quinta-feira

Show - Clube Big Beatles 
20h - No Teatro do Sesi. Com Clube Big Beatles e Badauí e Japinha, do CPM 22

Série Downton Abbey
Episódio especial que acompanha o passeio à feira dos criados e as expectativas da nova camareira. GNT as 22h30

Sexta-feira

Show - Tiê 
22h - No Teatro Sesi. Com Tiê

Show - Sambô 
22h - No Ilha Shows. Com Sambô e SambADM

Série A Mulher do Prefeito
Série nacional com Denise Fraga como a mulher do prefeito de Pitanguá, interpretado por Tony Ramos, além de vice-prefeita e adestradora de cães. Obviamente inspirado pelos noticiários, o enredo coloca um estádio pronto para ser inaugurado na cidade, solenidade interrompida pela chegada de um mandado de prisão por desvio de verbas e o plano do prefeito de fingir estar doente para conseguir prisão domiciliar, o que deixa sua esposa no comando da cidade. Globo as 23h20

Cinema. Aposta Máxima (Estreia)
Richie (Justin Timberlake), estudante de Princeton acreditando que está sendo fraudado, viaja a Costa Rica para confrontar o magnata das apostas online, Ivan Block (Ben Affleck). Richie é seduzido pela riqueza de Block atédescobrir a verdade perturbadora sobre o magnata. Quando o FBI tenta coagir Richie a ajudá-los a prender Block, Richie se encontra na maior aposta de sua vida: tentar vencer as duas forças que o estão pressionando.

Poster do filme Mato Sem Cachorro

Cinema. Mato Sem Cachorro (Estreia)
Deco tem trinta anos de idade e nenhuma ambição na vida. Zoé é dois anos mais nova, mas não se contenta com o fato de sua carreira na rádio estar apenas começando. O casal se conhece um dia na rua, quando Deco quase atropela um filhote de cachorro que sofre com ataques incontroláveis de sono. Deco, Zoé e o cão Guto se aproximam de forma inesperada, gerando uma família maravilhosamente disfuncional. As alegrias e sofrimentos de um casal amadurecendo são os principais ingredientes para aquele que se tornou um dos gêneros prediletos do público brasileiro: a comédia romântica.

Livro 'Necrópole'
Escrito de forma dura, sem concessões, “Necrópole” tenta reabrir as cicatrizes do Holocausto. Na visita que Pahor faz ao antigo campo de concentração, que agora recebe um público curioso, ele vê a grama crescer no portão de entrada e integrar os horrores do nazismo à natureza. A partir daí, seguem blocos enormes de descrições e reflexões cruas acerca do tempo em que o esloveno ficou preso. Ali, ele versa sobre a culpa de ter sobrevivido e o desconforto que sente com a presença banal dos visitantes. Relato autobiográfico feito pelo autor Boris Pahor em "Necrópole" chega nesta sexta às livrarias do Brasil

Sábado

Projeto "Luzes e Aplausos" 
20h - No Teatro do SESI. Caixa de Phosphorus

Peça: Palavras de Mulher 
21h - No Teatro Universitário da UFES. Espetáculo Palavras de Mulher


Show - Ney Matogrosso 
20h30 - Na Arena Vitória. Com Ney Matogrosso

Show - Rony & Ricy 
22h - Na Adega Sertanejo. Com a dupla Rony & Ricy

Show - Black Sete 
22h - No BarrAcústico. Com Black Sete e DougMaster DJ


Exposição – “Naquela Mesa”

Exposição 'Naquela Mesa'
Está em cartaz na Galeria Homero Massena, no Centro de Vitória, a exposição “Naquela Mesa”. A mostra, de Thiago Arruda, reúne gravuras sobre o Centro de Vitória e a visitação égratuita. Os horários para visita são de segunda a sexta-feira, de 9 às 18 horas, e aossábados de 13 às 18 horas.

Cinema em casa. Filme O Aviador
Leonardo DiCaprio é Howard Hughes, um gênio do design multimilionário que envolveu-se no avanço tecnológico aeronáutico, cinema e combinou isso tudo com a conquista de muitas mulheres. Mas o filme também retrata sua luta contra o Transtorno Obsessivo Compulsivo, que arrasou sua vida. Na Max Prime as 22h

Cinema em casa. Filme Jogos Vorazes
Adaptação do primeiro livro da trilogia homônima escrita por Suzanne Collins e ambientada em um mundo pós-apocalíptico. Panen é dividida em 12 distritos e anualmente o governo exige que cada um deles ofereça dois jovens para participar dos Jogos Vorazes, uma competição de vida ou morte transmitida pela TV. Órfã de pai, Katniss é uma adolescente do distrito mais pobre de Panen que se oferece para participar da competição no lugar de sua irmã mais nova e acaba envolvida na política que cerca os jogos. Na HBO as 22h

Domingo

Peça: Palavras de Mulher 
19h - No Teatro Universitário da UFES. Espetáculo Palavras de Mulher

Série Boardwalk Empire
Estreia da quarta temporada que começa em 1924, ano em que Al Capone tentou tomar uma parte de Chicago, com consequências importantes para seu avanço no crime organizado. Alterado pelos eventos da terceira temporada, Nucky entra em choque com o prefeito e com o próprio irmão, além de expandir seus negócios para a Flórida. HBO as 23h

domingo, 29 de setembro de 2013

LOS HERMANOS. CRÍTICA DO CD "CAVALO", DE RODRIGO AMARANTE.



Depois das experiências no Little Joy e na Orquestra Imperial, Rodrigo Amarante chega sem pequenas ou grandes alegrias ao seu primeiro trabalho solo. É um disco de tristezas, distâncias e, como ele mesmo diz, vazios

A faixa mais bela e que traduz melhor a ideia do CD é "Irene", em que ele faz o avesso do avesso da música homônima de Caetano Veloso. A original era uma falsa canção alegre, marcando com a risada da irmã o embarque para o exílio forçado. Em uma legítima torch song, Amarante apresenta uma Irene sem ironia, que também ri, mas é para explicitar àquele que canta a solidão do exílio voluntário (porém necessário, segundo o artista). "Milagre seria não ver/ No amor essa flor perene/ Que brota na lua negra/ Que seca mas nunca morre", diz uma das estrofes. Amarante disse ao "Globo" que o cantor baiano está no imaginário de seu disco. Disse ainda que a quase enrolada carta que escreveu como "apresentação" de "Cavalo" -onde reivindica uma identidade migrante, fala sobre desterro, sobre saudade e sobre criação- começou como uma carta a Caetano.
O exílio (diga-se, o mais cool dos exílios, voluntário e ao lado do mainstream do Strokes ou do hipsterismo de Devendra Banhart, seus parceiros nos EUA, onde foi morar), a abertura ao estrangeiro como cultura e como linguagem, a aposta de risco na mudança e no crash, a verborragia pronunciada, o egocentrismo às claras. Tudo mostra tributo a Caetano. Somos remetidos a uma crítica de Pedro Alexandre Sanches, uma década atrás, na Folha de S.Paulo. No lançamento de "Ventura", o disco de 2003 dos "Los Hermanos", Sanches afirmara que, guardadas todas e devidas proporções, tínhamos Caetano (Amarante) e Chico Buarque (Marcelo Camelo) na mesma banda. Em caminhos separados, a comparação continua valendo.  
Ademais, há palavras que se repetem ao longo das 11 faixas. Uma delas é "nome" (em português, inglês e francês), insistência reveladora da perda e da busca de identidade inerentes à vida em outro país. "Je suis l'étranger" é o primeiro verso de "Mon Nom", deixando claro, junto com o palíndromo do título, o deslocamento existencial causador e consequência do deslocamento físico. Outras quatro canções são em inglês. Tanto ou mais do que influência da temporada que passou nos Estados Unidos, a opção reflete esse mergulho no estrangeirismo e no estranhamento. Uma avaliação rigorosa poderia desmerecer parte dos versos, mas eles se integram bem à proposta e ao desalento que perpassa todo o CD --com relativa exceção para a única roqueira, "Hourglass", mas em que a melancolia também está presente. Logo no segundo verso da primeira faixa, há um erro de português: "No espaço entre eu e você" (o certo é "entre mim e você"). Esse tipo de estranhamento não parece voluntário. Ainda assim, é uma bela bossa nova, com acentos orientais e mais ritmo do que harmonia, tratando de reflexos: ele vendo a si mesmo na imagem do outro. De novo, a identidade embaçada --a cultural, inclusive.

Já "Maná" tem muito balanço, é dançante, caribenha, ponto de macumba e filha de Jorge Ben Jor, lançada como espécie de single no semestre passado. Em "Maná" volta o tema da sorte e os caminhos do amor, que vem de antes: “O amor é coragem/ é feitiço da sorte/ Mas o ponto mais forte/ é saber se amar"
Postas em sequência, "O Cometa" (feita para o poeta e escritor Ericson Pires, morto em 2012), "Cavalo" e "I'm Ready" têm suas belezas um pouco arrefecidas pelo entorpecimento que as melodias algo repetitivas provocam. Mas a guitarra na música "O Cometa" é uma boa tradução instrumental da concisão sonora com que Rodrigo Amarante procurou tratar a temática do vazio.

O CD termina com a comovente "Tardei", que se assemelha ao fim de uma busca, à chegada em algum lugar. Curiosamente, Amarante, que, grosso modo, era visto como a face mais pop do Los Hermanos (em contraponto à MPB de Marcelo Camelo), surge solo e solitário mais parecido com o seu colega de banda, no despojamento musical e na melancolia como matéria-prima. Outro caminho que se fecha.

CAVALO
ARTISTA: Rodrigo Amarante
GRAVADORA: Slap
QUANTO: R$ 24,90 (CD) e R$ 69,90 (LP), nas lojas a partir de outubro

AVALIAÇÃO: bom
FONTE: Acervo Pessoal, Folha de São Paulo e Correio do Estado.


OUÇA O ÁLBUM NA ÍNTEGRA: 

ENTREVISTA. DAVE GROHL RELEMBRA A ÚLTIMA VEZ QUE FALOU COM KURT COBAIN.



Dave Grohl relembra a última vez que falou com Kurt Cobain. Em entrevista à Rolling Stone, o baterista do Nirvana comenta as gravações do disco derradeiro da banda, In Utero

“Há diversos modos de se analisar”, diz Dave Grohl sobre In Utero, último álbum de estúdio gravado por ele no posto de baterista do Nirvana, marcando a volta ao som mais punk depois do sucesso monstruoso e multiplatinado Nevermind(1991). “Você pode descrevê-lo como um grande feito.” Ele faz uma pausa. “E também pode lembrar dele como o produto de uma época completamente fodida.” É manhã no 606, estúdio de Grohl no Vale San Fernando, em Los Angeles. No andar de baixo, na sala de controle, o produtor Butch Vig e membros do Foo Fighters estão se preparando para trabalhar na pré-produção de um novo álbum. No andar de cima, no lounge, Grohl marca o vigésimo aniversário de In Utero – lançado em setembro de 1993 e relançado este mês em uma edição de luxo, incluindo demos raras, faixas ao vivo e uma nova mixagem – com uma das mais longas e profundas entrevistas sobre os últimos dias do Nirvana e de seu desafortunado líder, o vocalista, guitarrista e compositor Kurt Cobain.

Grohl e o baixista do Nirvana, Krist Novoselic, falaram bastante sobre In Utero e o trágico clímax do disco – o suicídio de Cobain com um tiro de espingarda em abril de 1994 – para a Rolling Stone EUA. O baterista foi especialmente detalhista em suas memórias sobre In Utero e sobre os vários sinais contidos nas músicas de Cobain. O que se segue é a conversa com Grohl, depois que ele mostrou à reportagem da Rolling Stone o 606 inteiro, incluindo um corredor dedicado ao Nirvana, repleto de cartazes de turnê antigos e discos de ouro e platina de todo o mundo.

Você entrou no Nirvana bem a tempo de tocar em Nevermind. Houve tempo para desenvolver uma ligação com Kurt?

Toda banda que eu havia feito parte até aquele ponto era formada por amigos que ou se juntaram para fazer música ou se transformavam em uma família durante as turnês. O Nirvana foi um pouco diferente. Conviver com Kurt era engraçado. Ele se isolava em vários sentidos, emocionalmente. Mas ele tinha uma natureza doce, genuína. Nunca deixava você desconfortável intencionalmente. Morar com ele naquele apartamentozinho apertado em Olympia, Washington, funcionava como um tipo de elo entre a gente. Mas era bem diferente da relação dele com Krist.


Como você definiria a relação deles?

Eu via Krist e Kurt como almas gêmeas. Os dois tinham uma compreensão mútua tão linda, silenciosa. Aqueles dois caras, juntos, definiam totalmente o Nirvana. Cada trejeito, todas as coisas estranhas do Nirvana vinham de Krist e Kurt. Acho que o fato de os dois terem sido criados em Aberdeen – por terem passado por experiências juntos nestes anos tão importantes na formação de uma pessoa – teve muito a ver com isso.
Musicalmente a química era simples. Tudo o que tínhamos que fazer era sermos nós mesmos. Quando você entra numa banda sem nem sequer ter conhecido os outros membros antes, tudo o que você quer é ser musicalmente contundente. Muitas vezes me senti um estranho no ninho. Estava acostumado a me ver cercado de gente conhecida desde que tinha 13 anos de idade. E de repente eu estava morando na porra de Olympia, com alguém que eu nem conhecia. Não tinha sol. Era só a música.


Fico sempre lembrando da primeira frase de "Serve the Servants”: "Teenage angst has paid off well” [“A angústia juvenil rendeu bem”]. Para você rendeu mesmo, com o Foo Fighters, este estúdio. Kurt poderia ter tido isso também. A principal vulnerabilidade dele era a incapacidade de ter prazer com as conquistas do próprio trabalho.

Não sei de onde isso saiu. Muita gente não considera o próprio trabalho válido. Porque é dela. Entendo isso. Conheço muita gente que não se sentiria confortável com toda a carga resultante de ser uma banda grande como o Nirvana. O que eu não entendo é não conseguir apreciar o simples dom de poder tocar.

Quando o Nirvana se tornou popular, a transição foi difícil. Você faz parte de uma cena punk underground com heróis como Ian McKaye (Fugazi) ou Calvin Johnson (Beat Happening). Deseja desesperadamente a aprovação destas pessoas, porque isso o validará como músico: “Sou para valer”.
Tive sorte, porque voltei para Washington, D.C, e vi todos os meus heróis me dizerem que estavam orgulhosos por eu ter virado uma porra de uma estrela do rock corporativo [risos]. Este peso foi tirado dos meus ombros logo de cara. Nunca me preocupei com isso. Talvez tenha algo a ver com a ansiedade do Kurt. Ele tinha medo que as pessoas da cena não aprovassem o que ele se tornou.

Você disse que as coisas foram estranhas para o Nirvana em 1992. Aconteceram ensaios mas poucas gravações e turnês. Voces estavam nesta posição incrível, de poder fazer o que quisessem, mas não sabiam o que iam fazer nem como.

A organização do Lollapalooza ligava: “Vocês têm que ser a atração principal do festival”. Fui ver o U2 tocar com o Pixies e fui arrastado até o camarim do Bono: “Vocês têm que sair em turnê com a gente”. O pessoal do Guns N’ Roses ligava. E eu ficava, tipo: “O que cacete está acontecendo?” Era bom para a gente não fazer muita coisa. Mas era como segurar um fósforo aceso e ficar só assistindo enquanto ele queima seus dedos. Era só uma questão de tempo até alguma coisa acontecer.

Estávamos gravando algumas músicas, uma para o single com o Jesus Lizard e uma cover do Wipers. Kurt disse: “Oh, tenho uma ideia para uma música”. E ele tocou “Frances Farmer” ["Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle"]. E foi tipo: “Meu Deus, vamos gravar outro disco”.

Em que estágio estava a faixa quando ele a tocou pela primeira vez? Em que ponto ele trazia a música para mostrar?

Naquele dia, ele estava no meu porão. Ele disse “olha só isso” e tocou o riff. Também tocou “Very Ape”. Talvez tenhamos improvisado um pouco em cima no dia. Normalmente, quando o Nirvana fazia música, não havia muita conversa. Queríamos que tudo fosse surreal. Não queríamos nada certinho, calculado. Em uma música como “Heart Shaped Box” – a gente simplesmente começava a tocar e improvisava. Kurt tocava o riff, Krist encaixava o que ele estava fazendo, e eu ia acompanhando os dois. Entrávamos naquela dinâmica, de tocar alto, depois baixo, e aí alto. Muita dessa coisa de alto-baixo veio desse experimentalismo.


Como você lidava com o vício de Kurt?

Parei com as drogas quando tinha 20 anos. Nunca usei heroína ou comprimidos. Tomei muito ácido, fumei muita maconha, me diverti bastante. Quando se trata de narcóticos, é uma outra história. Não era algo do qual eu fazia parte, felizmente. O que não quer dizer que eu não me importava.

Não viajávamos mais de van, não fazíamos mais parte daquele clubinho. Era palpável uma certa distância emocional, mas de um jeito melancólico. Havia vezes em que ninguém falava nada o dia todo, embora estivéssemos em turnê e tocando. E aí a gente se trombava nos corredores e dizia algo tipo: “A gente deveria arrumar umas minimotos quando voltarmos para casa. Conheço uma trilha que a gente pode fazer, que sai de trás de casa”. Ou: “Aquele lugar que vende cortador de gramas também tem karts. Vamos comprar uns daqueles”. Havia esses momentos em que a gente se conectava emocionalmente.
E rolava? Chegaram a comprar os karts?

Claro que não [risos]. Nessas horas tudo o que você precisa é aquele momento de validação: ainda estávamos juntos.


O que você lembra das sessões de In Utero? Kurt estava usando heroína na época? Krist disse que achava que não.

Não sei, cara. Era um troço estranho. Estávamos isolados naquela causa, no meio da neve, em fevereiro, no Minessota. Gravando com Steve [Albini] – ele apertava o botão, começava a gravar, a gente fazia a tomada, e ele [bate palmas]: “OK, qual a próxima?” Espera, mas ficou bom?

Trabalhar com [o produtor] Butch Vig em Nevermind foi completamente diferente. Fizemos aquele álbum para ser exatamente aquele álbum. Estávamos empolgados para caralho. Havíamos passado tanto tempo praticando. Estávamos tão soltos e tão entrosados quanto era necessário.
Passamos por In Utero voando. Acabei minha parte em três dias. Tive mais dez dias para ficar sentado com a bunda na neve sem fazer nada. Depois que terminamos a parte instrumental, era a vez do Kurt gravar os vocais e overdubs. Lembro que todo mundo estava preocupado com o tempo de "Heart-Shaped Box”. Mas tocar usando metrônomo não é legal. Kurt e Steve tiveram uma ideia – a gente poderia usar uma luz strobo [risos]. Tivemos uma longa conversa sobre como a luz não iria ditar o tempo, e sim fazer com que o tempo fosse apenas implícito.

Ou iria hipnotizar vocês. 

Eu disse: “OK, cara, o que quer que vocês queiram que eu faça, beleza”. Sentei lá por uma tomada ou duas com aquela porra de strobo na minha cara até praticamente ter uma convulsão. Eu disse: “Será que a gente não pode simplesmente tocar? Deixar fluir. É só não encanar”.


Ficou surpreso por Kurt querer gravar sua música “Marigold” durante as sessões de In Utero? É a única canção original em um disco do Nirvana em que ele não teve qualquer envolvimento na composição.

Compus a música em uma mesa quatro canais que havia na casa. Ele estava no quarto dele. Não queria acordá-lo. Por isso eu gravava as coisas sussurrando baixinho no microfone. Eu estava gravando a harmonia vocal do refrão, e a porta abriu. Ele disse: “O que é isso aí?” “É só um negócio que eu compus”. “Deixa eu ouvir”.

Ficamos lá sentados, tocamos algumas vezes. Eu fazia a harmonia mais aguda e ele fazia a grave. É engraçado compor em parceria. Eu nunca tinha feito isso. Componho para o Foo Fighters e depois a banda toca comigo. Mas sentar cara a cara com alguém é outra viagem. Não sei se ele já tinha feito isso alguma outra vez. Era como um encontro às escuras desconfortável. “Ah, você também canta? Vamos fazer a harmonia juntos então”. Eu era meio tímido na época também.
Fiquei envaidecido. Mas lembro, acho que foi Steve quem disse: “Talvez "Marigold" devesse entrar no álbum”. Fiquei apavorado [risos]. Não, não, espera. É tipo aquela piada: "Qual a última coisa que o baterista disse antes de ser expulso da banda? 'Ei, compus uma música'."
Obviamente, a faixa não entrou [“Marigold” saiu como o lado B de “Heart-Shaped Box”]. Fiquei feliz. Porque o álbum manteve a integridade da visão de Kurt. Mas fiquei incrivelmente envaidecido. “Sério, vocês gostaram mesmo?”

Lembra da última vez que viu Kurt e o que disse a ele?

Liguei para Kurt depois do que houve em Roma [em março de 1994, durante uma turnê europeia, Cobain tomou uma overdose de comprimidos e álcool em um hotel em Roma. O Nirvana voltou para Seattle, onde Cobain morreu um mês depois]. Eu disse: “Ei, cara, você deu um belo de um susto em todo mundo. Não quero que você morra”.

Depois o encontrei no escritório do nosso contador [em Seattle]. Ele estava saindo quando eu estava chegando. Ele sorriu e disse: “Ei, e aí?” E eu disse: “Te ligo”. E ele disse: “Ok”.

Há algo em In Utero que as pessoas devam ouvir e saber para entender Kurt melhor como homem e artista e menos como uma figura trágica? É difícil escutar o álbum do modo como ele pretendia que fosse, por conta da carga de tudo o que veio depois.

O álbum deveria ser ouvido como se tivesse acabado de sair. É este o meu problema com ele. Eu costumava ouvi-lo muito. E não ouço mais, por causa disso. Para mim, se você escuta o disco sem pensar na morte do Kurt, ainda é capaz de entender o sentido original. Como meus filhos. Eles sabem que eu fiz parte do Nirvana. Eles sabem que Kurt morreu. Não contei a eles que Kurt se matou. Eles têm quatro e sete anos. Por isso, quando eles ouvem In Utero, o fazem de uma perspectiva totalmente diferente – como ouvintes de primeira viagem, como era originalmente a intenção do álbum.

Um dia eles vão saber o que aconteceu. E aí o significado vai mudar. Foi o que aconteceu comigo.


PROGRAMAÇÃO CINE JARDINS – 27 DE SETEMBRO A 03 DE OUTUBRO DE 2013


Cine Jardins é um cinema especializado em arte cinematográfica. Com uma programação selecionada que preza pela qualidade, o conteúdo e a diversidade, exibe as melhores produções cinematográficas realizadas ao redor do mundo, premiadas em festivais internacionais e distinguidos pelo trabalho de direção ou trajetória nos circuitos alternativos de cinema. Confira a programação:

- BLING RING: A GANG DE HOLLYWOOD
The Bling Ring – EUA, 2013 – 90 min
Sala 1
Todos os dias – 21h15
Classificação – 14 anos
Gênero – Comédia Dramática
Nicki (Emma Watson), Marc (Israel Broussard), Rebecca (Katie Chang). Sam (Taissa Farmiga) e Chloe (Claire Julian), entre outros jovens de Los Angeles têm em comum uma vida meio vazia, de pais ausentes, como Laurie (Leslie Mann), mãe de Nicki, que não tem a menor noção do que as filhas estão fazendo nas ruas, durante o dia e, pior, durante a noite. Fascinados pelo mundo glamuroso das celebridades das revistas, como Paris Hilton, e artistas como Kirsten Dunst, o grupo começa a fazer pequenos assaltos na casa dessas pessoas, quando descobrem que entrar nas residências deles não é nada difícil. Cada vez mais empolgados com "os ganhos", o volume dos saques desperta a atenção das autoridades, que decidem dar um basta nos crimes dessa garotada sem limites. Baseado em fatos reais.
Nota do jornal Folha de São Paulo (crítico Sérgio Alpendre): * * * * (Ótimo)
 - NOTA DE RODAPÉ 
Hearat Shualayim / Footnote – Israel, 2011 – 105 min – ESTRÉIA
Sala 1
Todos os dias – 19h15
Classificação – 14 anos
Gênero – Drama
Eliezer (Shlomo Bar-Aba) e Uriel Shkolnik (Lior Ashkenazi) são pai e filho, assim como professores excêntricos do departamento de Talmude (livro sobre judaísmo rabínico) da Universidade Hebraica de Jerusalém. O pai Eliezer é um purista que não gosta do mundo acadêmico e jamais foi reconhecido pelo seu trabalho. Mas seu filho Uriel é uma estrela em ascensão, que gosta de ser reconhecido e bajulado. Um dia, a situação muda de figura. Quando Eliezer sabe que vai receber o Prêmio Israel, uma grande honraria da vida acadêmica no país, sua vaidade e a necessidade desesperada de reconhecimento ficam expostas. Uriel fica muito contente porque seu pai, finalmente, será reconhecido, mas, por uma irônica reviravolta, é obrigado a escolher entre sua carreira e o apoio ao pai.
Portal Cine Click (crítica Cristina Tavelin): * * * * (Ótimo)
- FLORES RARAS
Flores Raras – Brasil, 2012 – 116 min.
Sala 1
Todos os dias – 17h00
Classificação – 16 anos
Gênero – Drama
A história dramática da arquiteta carioca Lota de Macedo Soares (Glória Pires), uma das responsáveis pela construção do Aterro do Flamengo, e da poetisa americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto), vencedora do prêmio Pulitzer em 1956, que viveram um romance no Rio de Janeiro, entre 1951 e 1965.
Nota do jornal O Globo (crítico Daniel Schenker): * * * * (Ótimo)
 - OS SMURFS 2
The Smurfs 2 – EUA, 2013 – 96 min.
Sala 1
Apenas Sábado (28/09) – 15h00
Classificação – Livre
Gênero – Aventura/Infantil – Dublado/2D
O vilão Gargamel quer a essência dos Smurfs. Para atingir seu objetivo, ele cria os Danadinhos, seres pequeninos que são uma espécie de versão cruel dos Smurfs. Os heróis precisarão contar com a ajuda dos amigos humanos para se salvar das garras do inimigo.
Matinê Cine Jardins: Nesta sessão todos pagam meia.
- TURBO
Turbo – EUA, 2013 – 96 min.
Sala 1
Apenas Domingo (29/09) – 15h00
Classificação – Livre
Gênero – Animação/Infantil – Dublado/2D
Turbo é um caracol que sonha em ser o mais rápido do mundo, assim como seu herói, Guy Gagne, cinco vezes campeão das 500 Milhas de Indianápolis. Sua obsessão pela velocidade é motivo de vergonha para seu irmão Chet. Até que um acidente acontece na vida de Turbo, que pode, enfim, realizar seu desejo.
Matinê Cine Jardins: Nesta sessão todos pagam meia.
- UMA NOITE 
Una Noche – Cuba/ Estados Unidos/ Reino Unido, 2012 – 90 min – ESTRÉIA
Sala 2
Todos os dias – 21h15
Classificação – 16 anos
Gênero – Drama
No desespero de Havana, Raul (Daniel Arrechaga) sonha em fugir para Miami. Quando é acusado por assalto, sua única opção é escapar. Para isso, ele pede ajuda a seu melhor amigo Elio (Javier Núñez Florián), cuja lealdade é testada quando este fica dividido entre proteger sua irmã e o próprio desejo de sair do país.
Nota do Portal Cinema em Cena (crítico Pablo Villaça): * * * * (Ótimo)
- LAS ACÁCIAS 
Las Acacias – Argentina/Espanha, 2012 – 85 min – ESTRÉIA
Sala 2
Todos os dias – 19h20
Classificação – 14 anos
Gênero – Drama
Rubén é um motorista de caminhão solitário que percorre há anos a estrada entre Assunção e Buenos Aires. Mas dessa vez a viagem será diferente, com a companhia de Jacinta, que embarca de carona com seu bebê de oito meses.
Nota do Portal Cinema em Cena (crítico Pablo Villaça): * * * * * (Excelente)
 - AUGUSTINE
Augustine – França, 2012 – 102 min.
Sala 2
Todos os dias – 17h15
Classificação – 14 anos
Gênero – Drama
Paris, 1885. No hospital Pitié Salpêtrière, o professor Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon) estuda uma doença misteriosa: a histeria. Augustine (Soko), de 19 anos, é sua cobaia favorita, principalmente de seus testes com hipnose. O objeto de estudo, gradualmente, transforma-se em objeto de desejo.“Augustine” ganhou o prêmio de Melhor Atriz (Soko) e foi indicado a Melhor Filme no Festival de Mar del Plata em 2012, indicado ao Discovery Award e Internacional Critics' Award (Fipresci) do Festival de Toronto.
Nota do jornal O Globo (crítica Susana Schild): * * * * * (Excelente)
- UNIVERSIDADE MONSTROS
Monsters University – EUA, 2012 – 107 min.
Sala 2
Apenas Sábado (28/09) – 15h15
Classificação – Livre
Gênero – Animação/Infantil – Dublado/2D
Desde que era só um monstrinho, Mike Wazowski, agora a caminho da universidade, sonha em se tornar um assustador. E ele sabe melhor do que ninguém que os melhores assustadores estudam na Universidade Monstros (UM). Mas, durante seu primeiro semestre na UM, os planos de Mike saem dos trilhos quando seu caminho cruza com o do sabichão James P. Sullivan, “Sulley”, um assustador nato. O espírito competitivo fora de controle da dupla os leva a serem expulsos do programa de assustadores de elite da universidade. Para piorar ainda mais as coisas, eles percebem que terão de se unir e trabalhar com um estranho grupo de monstros que não se encaixam bem em nenhuma turma se quiserem ter alguma esperança de acertar as coisas.
Matinê Cine Jardins: Nesta sessão todos pagam meia.
- MEU MALVADO FAVORITO 2
Despicable Me 2 – EUA, 2013 – 98 min.
Sala 2
Apenas Domingo (29/08)  15h15
Classificação – Livre
Gênero – Animação/Infantil – Dublado/2D
Gru (voz de Leandro Hassum) mudou radicalmente sua vida e agora seu negócio é se dedicar as filhotas Agnes, Edith e Margo, deixando de lado os tempos de vilão. Ele só não contava que seu passado de "ladrão da Lua" pudesse falar mais alto e ser responsável pelo seu recrutamento, através da AVL (Liga Anti-Vilões), para salvar o mundo na companhia da adorável agente Lucy (Maria Clara Gueiros). Juntos, eles precisam localizar o criminoso que roubou a fórmula PX41, e Gru desconfia que um antigo "concorrente", chamado El Macho (Sidney Magal), possa ser o responsável por essa maldade. Para completar os problemas, o parceiro Dr. Nefário (Luiz Carlos Persy) resolver abandoná-lo, colocando em risco o bom humor dos hilários Minions. O que será que vai acontecer?
Matinê Cine Jardins: Nesta sessão todos pagam meia