terça-feira, 1 de outubro de 2013

CRÍTICA DO FILME 'O TEMPO E O VENTO'

'O Tempo e o Vento', filme baseado na maior obra do escritor Érico Veríssimo, chegou neste fim de semana nos nossos cinemas e o Outros 300 esteve lá para acompanhar. Aproveitaremos e passaremos para vocês agora as nossas impressões. Confira-as abaixo.

O Tempo e o Vento

Um oásis no meio de tantas besteiras
Em época de enxurradas de filmes nacionais de comédia de baixa qualidade, 'O Tempo e o Vento' destoa por ser sério, bem filmado e interpretado.

Quantidade definitivamente não é qualidade. Apesar de o Brasil estar passando por um grande momento em seu cinema, com a produção de vários filmes, a qualidade do que nos tem sido apresentado tem estado muito abaixo da média. De comédias tolas, quase toscas, à adaptações das vidas (ou obras) de artistas pops com filmes de qualidade duvidosa, nosso cinema necessitava em 2013 de um filme como 'O Tempo e o Vento'. Posso garantir que o filme salvou o ano.   

O Tempo e o Vento - Foto

E olha que ele passa longe de ser brilhante, mas tem uma coisa que a maioria (para não ser radical e dizer todos) os outros filmes nacionais de 2013 não tiveram: Foi bem filmado. Se você for ao cinema para ver as aventuras do Capitão Rodrigo, pode ter a certeza de que se deparará com um produto bem elaborado e executado. Garanto: Você não vai sair do cinema com jeito de quem foi afrontado em sua capacidade intelectual!

Cena do filme 'O Tempo e o Vento', de Jayme Monjardim

A trama

O Tempo e o Vento é baseado na maior obra do escritor Érico Veríssimo. O filme conta a história da família Terra Cambará e de sua principal opositora, a família Amaral, durante 150 anos, começando nas Missões até o final do século XIX. Sob o ponto de vista da luta entre essas duas famílias, são retratadas a formação do Rio Grande do Sul, a povoação do território brasileiro e a demarcação de suas fronteiras, forjada a ferro e espada pelas lutas entre as coroas portuguesa e espanhola.

O Tempo e o Vento - Foto

Acertos

Fernanda Montenegro! Genial, só para variar! Compete à excepcional atriz a narrativa (sim narrativa) na primeira metade do filme. Somente com sua entonação de voz (e olhares quando a câmera a filma) a grande dama nos emociona e, principalmente, nos posiciona quanto aos acontecimentos  do filme.

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Percebam aqui que a trama é focada dentro da perspectiva de Bibiana (Fernanda Montenegro e Marjorie Estiano jovem) o que também é uma bola dentro, uma vez que, com isso, a narrativa foge de ser apenas um relato histórico e passa a ser um relato de vida, com lutas e batalhas vividas na pele.

Thiago Lacerda é Capitão Rodrigo, e o ator dá ao personagem o que ele "precisa": Sorrisos, charme e despojo. Características típicas do lendário guerrilheiro. No mais, Lacerda sempre se dá bem em personagens históricos, especialmente naqueles em que se pese ser heroico e bravo.

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A parte técnica do filme é brilhante e não medirei mesmo meus adjetivos quanto a isso. A fotografia em especial é linda. Emocionante. A filmagem de Jayme Monjardim, mestre nas cenas externas, é ressaltada especialmente nas paisagens e na luminosidade do sul do país o que é realmente lindo. Todas as cenas de batalhas são extremamente bem feitas, além de serem claras e informativas, sem serem didáticas.

Quem for das mais antigas vai sentir que houve bastante similaridades entre o filme e a minissérie que passou na Globo nos anos 80. Bem, eu tive essa impressão, mas não me decepcionei, longe disso até. A série da Globo foi ótima, logo basear-se em produto tão bem executado não é demérito e sim inteligência!

Erros

Por tentar fazer uma trama mais humana e menos histórica acabou-se focando-se demais nos romances (em especial no de Ana Terra e do índio Pedro) e deixou-se de lado toda parte do porque se motivaram as guerras (em especial a revolta Farroupilha). Justificavam-se os amores, mas não justificavam-se os horrores.

Querem condensar três partes quase distintas de trama em um único filme também deixou a coisa corrida e superficial demais. Era impossível se aprofundar muito em cada personagem pois ele "envelhecia" rápido demais.

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Cléo Pires e Marjorie Estiano ainda se mostram inconstantes. Brilhantes em alguns papéis, medíocres em outros. Dessa vez, para não soar muito rigoroso, digamos que as duas ficaram um degrau abaixo em relação a Lacerda e Montenegro, por exemplo.  

Repito e espero que fique claro. Empolguei-me, contudo fiz questão de pontuar que o filme não é brilhante nem nada. Mas tão somente que estamos vivendo um momento de filmes tão ruins no Brasil que pintar um 'O Tempo e o Vento' desse, ainda mais tão bem filmado como foi, que fica impossível passar impávido.

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