sábado, 12 de outubro de 2013

LICENÇA PARA CONTAR: SANDRO BAHIENSE



Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião, contos e máximas. Tais trabalhos podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/. Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas. Confira, abaixo, o conto “A melhor atriz de Station Falls":

A MELHOR ATRIZ DE STATION FALLS

‘Tudo pela arte’. Anne Markin era a melhor atriz de Station Falls, uma cidadezinha do interior da Inglaterra. Ser a estrela da cidade lhe bastava e sobrava. Todas as peças patrocinadas pela prefeitura da cidade tinham, como protagonista, Anne. Já havia feito todos os tipos de papéis, desde Lady MacBeth até uma montagem de gosto duvidoso de X Men. Sua carreira ia de vento em popa até a chegada de Alice Carlson, moça recém vinda de Londres, onde havia feito várias peças de teatro, algumas com figuras importantes e renomadas da grande arte.

Alice vinha à cidade para se tratar de problemas de saúde e logo a fama da “atriz de verdade” correu à pequena Falls. Moradores faziam fila para falar com ela e perguntar sobre como era contracenar com os atores mais conhecidos do Reino Unido. Todo esse alvoroço causou ciúmes em Anne, renegada agora a segundo posto no coração – e admiração - dos moradores da cidade.

Tudo ficaria ainda pior quando Anne soube que a prefeitura faria uma montagem de Romeu e Julieta na cidade e que Alice havia sido escalada para o papel principal, enquanto ela ganhara um papel pra lá de secundário.

Irritada, Anne foi conversar diretamente com o prefeito, questionando-o do porque da troca de protagonista, uma vez que ela era a “prata da casa” e que suas atuações sempre bastaram à cidade.

O prefeito, constrangido, disse que a escalação de Alice era para dar “um peso maior” àquela peça, uma vez que havia o boato que o governador poderia vir ao teatro da cidade assisti-la. As palavras “peso maior” ficaram martelando na cabeça de Anne, que sentiu seu sangue ferver de ódio e ciúme.

Decidida a não desistir tão facilmente do papel de Julieta, Anne propôs ao prefeito uma espécie de duelo pelo papel da mocinha. Vendo ali a possibilidade de arrecadar uns trocados a mais, o mandatário da cidade adotou a idéia e marcou para quinze dias depois a disputa. Alice, e depois Anne, fariam a mesma cena, e o povo decidiria à base de aplausos quem ficaria com o papel principal.

Enquanto Anne e seu partner ensaiavam intensamente, Alice sequer havia lido o roteiro. A tranqüilidade da rival só aumentava a tensão de Markin que decidiu que devia tomar medidas drásticas para vencer.

No dia das apresentações, Alice e seu parceiro de cena encenaram o ato final de Romeu e Julieta, emocionando o público que aplaudiu efusivamente. Na vez de Anne, ela e seu parceiro fizeram uma cena belíssima, quase real. Suas expressões na hora em que tomaram o veneno foram tão verossímeis que não houve dúvida: Anne vencerá o duelo!

Contudo a demora em ambos os atores se levantarem causou estranheza. Após algum tempo a notícia veio à tona. O veneno que eles tomaram era real.

O pobre ator não sabia deste pequeno "detalhe", mas Anne sim. Momentos antes de morrer, Anne deu um sorriso, certa que iria vencer, e seu último pensamento foi: “Não tem pra Alice, não tem pra ninguém... Eu sou a maior e melhor atriz de Station Falls”. É. Vale tudo pela arte...

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