sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O GLOBO. ENTREVISTA COM PAUL MCCARTNEY, QUE LANÇA UM NOVO ÁLBUM EM OUTUBRO.


Aos 71 anos, Paul McCartney ressurge modernizado no disco ‘New’


LONDRES — Em uma típica tarde londrina, cinzenta e chuvosa, Paul McCartney, provavelmente o maior artista vivo do planeta e o homem cotado para ser a atração de encerramento da Copa do Mundo de 2014, deu início à maratona de entrevistas para promover seu novo trabalho, simplesmente chamado “New” (“Novo”), o primeiro disco de inéditas em seis anos. Aparentando menos do que os seus 71 anos e ainda ostentando um olhar jovial, Sir Paul — que passou o dia anterior gravando um clipe nos lendários estúdios em Abbey Road, onde os Beatles gravaram praticamente todas as suas canções — chega à sala onde jornalistas de vários países o aguardam, faz uma piadinha e começa a dar detalhes sobre o novo trabalho, que será lançado mundialmente no dia 14, e até sobre alguns aspectos da sua vida pessoal.

Gravado com a colaboração de quatro produtores — Giles Martin (filho de George Martin, produtor dos Beatles), Ethan Johns (filho de Glyn Johns, engenheiro de som que trabalhou com Paul nos Beatles e Wings), Mark Ronson (que gravou com Amy Winehouse) e Paul Epworth (responsável pelo estrondoso sucesso do álbum “21”, de Adele) —, “New” mostra um McCartney bem diferente do que lançou “Kisses on the bottom” — uma coleção de clássicos americanos, em 2012. No novo trabalho, Macca está muito mais “moderno”, embora tenha preferido usar apenas instrumentos vintage na gravação das canções, num clima que lembra bastante o seu projeto “The fireman”, que rendeu o ótimo “Electric arguments” (2008).

— Eu queria ver como era trabalhar com cada um desses produtores. Quando vi o que eles fazem, eu achei interessante, por razões diferentes. Paul Epworth, o primeiro com quem trabalhei, gosta muito de experimentar. Ele tem uma ideia e diz para você: “Por que não tentamos algo assim (imita o som de uma bateria)?”. Então, fui para o piano, toquei algo parecido com o que ele sugeriu, e isso acabou se transformando na faixa de abertura do álbum (“Save us”). Esse é o método dele — contou Paul. — Já quando trabalhei com Mark Ronson, foi diferente. Ele pegou minhas canções e tentou fazer com que soassem da melhor maneira possível, o que é um método totalmente diferente de trabalho em relação ao Epworth, sem tanta improvisação. Ethan Johns é muito orgânico. Eu disse: “Tenho essa canção chamada ‘Hosanna’, cantei para ele, e fomos juntos para o estúdio. Quando terminou, perguntei se estava tudo ok, se os vocais estavam bons. E ele disse: “Perfeito!”. Era basicamente um take ao vivo. Giles já é interessante por outros motivos. Ele gosta de pegar uma canção, trabalhar nela, algo no estilo do que o pai dele fazia. É como um novo George Martin!

“Como qualquer um”


Na canção que dá nome ao disco, Paul diz que “podemos ser o que quisermos, podemos fazer o que escolhermos”. Mas Paul McCartney pode fazer o que quiser?

— Sim. Normalmente, as pessoas dizem que você não pode fazer isso ou aquilo por ser famoso, mas eu consigo — diz. — Vou ao cinema, como qualquer um. Adoro ver um filme novo. Eu sei que algumas pessoas que são tão famosas quanto eu não podem fazer isso, mas eu adoro ir ao cinema ou fazer compras, ir até a academia. As pessoas não me importunam. E, por outro lado, artisticamente eu tenho muita liberdade. O que é uma sorte. Então, a resposta é sim.

Mas, se Paul tenta levar uma vida normal, alguns aspectos da fama ainda o incomodam. E, como detentor de uma história musical riquíssima, ele ainda se preocupa em dar a sua versão dos fatos. Na balada “Early days”, por exemplo, ele deixa claro que fica incomodado quando as pessoas tomam por verdade histórias que não aconteceram.

— A canção é na maior parte feita de lembranças sobre John (Lennon) e eu. Sou eu me lembrando do nosso início, andando pelas ruas de Liverpool com violões nos ombros. E a canção diz “You can’t take it away from me” (você não pode tirar isso de mim). São minhas lembranças. Alguns jovens jornalistas às vezes dizem: “Isso foi assim”, e eu respondo: “Não, você não estava lá”. Há momentos em que isso se torna um problema, porque as pessoas distorcem a realidade — afirma. — Para mim, por exemplo, na época dos Beatles ou Wings, eu trabalhava com um grupo de pessoas, e nós éramos iguais. Não importava quem tinha feito algo ou de quem foi tal ideia. Às vezes, a gente nem lembra quem fez o quê. Isso não importa. Mas, quando chega ao estágio de fazer uma análise, e escritores precisam fazer isso, senão provavelmente não teriam sobre o que escrever, isso se complica. Por exemplo, em um dos livros que eu li dizia: “Paul fez essa canção em resposta a John na canção tal”. E eu pensei: “Eu não fiz! Apenas escrevi. Não tem nada a ver com John ou outra pessoa”. É disso que falo, às vezes a realidade é distorcida.


Tristeza como combustível


Outra revelação é a de que o sempre sorridente e otimista Paul McCartney também sabe usar a tristeza como combustível para sua inspiração:
— É bom ficar triste. Seria estúpido viver somente rindo. Quando você compõe, tristeza é sempre um bom elemento, mas também é bom poder rir e fazer piada sobre esses momentos. Às vezes, é preciso transformar dor em risada. Uma das coisas boas sobre os Beatles, Wings e sobre a minha banda atual é que nós rimos muito. Nós estamos rindo o tempo todo, mesmo quando passamos por algum momento difícil. Nem sempre as coisas são fáceis. É a condição humana.

“New” chega como um apanhado de tudo o que Paul já fez em sua carreira, já que é difícil ser totalmente novo para quem já gravou tantas coisas em tantos estilos. Em determinado momento, o músico — que, pela primeira vez, ontem, respondeu a perguntas de fãs via Twitter — parece ainda muito preocupado com o futuro e com o que ainda tem para produzir, e não apenas com o passado glorioso:

— Uso o passado e as emoções que senti frequentemente na minha música, mas não acho que seja o único. Acho que muita gente faz isso, e é bom. É claro que há canções das quais acabo me esquecendo, e aí fica perigoso a gente acabar se repetindo. Nessas horas, o jeito é confiar nos amigos e perguntar se algo lhes soa familiar. De vez em quando, um se vira para você e diz: “Adorei isso, mas você já usou na canção tal...”. Não tem como ser diferente.

Mas o passado não é o único alvo de Paul, assim como a aposentadoria não faz parte de seus planos. Com uma agenda que ainda inclui mais entrevistas, festas de audição das 12 faixas do disco e uma apresentação em um novo programa da BBC, o que esperar de Paul McCartney no futuro?
— Mais música! Eu tinha mais canções do que precisava para este álbum, e quando tiver tempo para revisitar algumas dessas músicas que eu não gravei, vamos ter uma outra safra de novas canções — prevê Paul, que deixa claro que está longe de dizer adeus aos palcos ou às gravações.

FONTE: O GLOBO

Abaixo, confira, 3 novas canções do mestre: 

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