quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CRÔNICA "O REI DA INVEJA", DE ANAXIMANDRO AMORIM.


Alexander Almeida. Um nome comum para um cara comum, a não ser por um detalhe: Segundo a “Veja São Paulo”, Almeida foi considerado “O Rei do Camarote”. O moço afirma gastar até 30 mil reais em casas noturnas da capital paulista, para a inveja de muitos. Inveja, sim. Almeida, mais do que “Rei do Camarote”, virou “O Rei da Inveja”. Não, caro leitor, não estou defendendo o rapaz. Nem o conheço e nem tenho vontade de conhecê-lo. Mas foi só postarem um vídeo das peripécias do moço para tecerem-lhe os mais duros impropérios. Como se a ninguém fosse dado o direito de gastar seu próprio dinheiro, ainda que da forma mais ridícula possível. Ou será que, se você estivesse no lugar dele, não faria o mesmo?
Almeida está mais para Rei Momo do que para uma verdadeira majestade. O empresário, de 39 anos, é meio gordinho, tem cara de “nerd”, está longe de ser um Brad Pitt e chega a ser até jocoso na sua fala, que beira o surreal. E talvez seja esse um dos motivos de tanto ódio. Longe das figuras idealizadas das novelas ou filmes, ele é, aparentemente, um tipo comum, como eu e você. O que significa: ele chegou lá. A gente, não. Ele anda de Ferrari, conhece as gatas e os Vips, enquanto a gente anda de carro comum, de bike ou até de ônibus e, certamente, precisa do dobro de esforço para impressionar o sexo oposto. Mas, lá no fundo, nenhum de nós faz nada mais, nada menos, do que Alexander faz. Isso mesmo, leitor: estamos todos no mesmo barco.
Vivemos na era do Facebook, em que a imagem é tudo e os limites entre o público e o privado estão cada vez mais tênues. Antigamente, por exemplo, álbuns de viagem eram coisas para se guardar naquela caixinha da estante. Hoje, eles estão nas redes sociais, para todo mundo saber que a gente foi a Paris, Nova Iorque ou Aruba. Quem tem barriga “tanquinho” a exibe, em fotos que beiram a nudez, muitas vezes. Mas, todo mundo, no fundo, no fundo, quer a mesma coisa: ser reconhecido e, em última análise, ser amado. E este é o papel das redes. Dar aquela “exibidinha”, aquela “espiadinha”, como diria um dos maiores "menestréis" da televisão brasileira, o Pedro Bial. Vivemos em clima total de BBB. A coisa toda chega a ser até meio paradoxal: muitos dizem que odeiam o programa, mas fazem da sua vida uma cópia fiel dele. Afinal, quem já não transcreveu o seu próprio itinerário ou leu o de outrem, para todo mundo saber? (“Hoje eu vou à academia, depois ao trabalho, depois ao cinema...”).
O maior problema de Alexander, porém, é que ele toca na ferida. E de punho cerrado. Brasileiro é, sim, um povo de autoestima baixa. Temos dificuldade em lidar com o sucesso alheio (sem aquele sentimento de que nos subtraíram algo). Todo mundo quer levar uma vida “simples”, mas ninguém quer abrir mão do seu carro. Quem tem uma posição melhor, fura fila, dá “carteirada”. Estamos sempre tentando nos afirmar e isso, consequentemente, faz com que tomemos conta da grama do vizinho. O grande problema é que nenhum de nós tem coragem de aceitar as nossas fraquezas. Uma delas, que todos amamos o consumo. Todos, sem exceção. Assim, o “Rei do Camarote” indigna, não porque moramos em um país com alta concentração de renda ou outras mazelas, mas, porque muitos de nós jamais chegaremos lá. E aí, só nos resta debochar do cara. É a única coisa que podemos fazer.
Dizem que Alexander Almeida está tendo problema com seus clientes, chegando a perder alguns. Já está até rolando nas redes sociais que tudo não passa de mentirinha, ou, na linguagem da internet, “trollagem”. Verdade ou não, pra mim, Alexander é a cara da nossa contemporaneidade. Sem tirar nem pôr. E ele já conseguiu seus quinze minutos de fama, que vai lutar com unhas e dentes para esticá-los a dezesseis ou dezessete. Até que venha um outro “Rei do Camarote” ou sei lá do quê. Pode ser eu ou pode ser você. Em todo caso, nos dias de hoje, a glória é efêmera, mas há quem se digladie para conquistar o gostinho de causar inveja nas pessoas. Nem que seja por apenas quinze minutos.



Anaximandro Amorim (1978) é escritor, advogado, bacharel em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e pós-graduado em Direito pela Escola da Magistratura do Trabalho da 17ª Região (EMATRA - 17ª Região). Membro da Associação dos Professores de Francês do Estado do Espírito Santo (APFES), do Conselho Estadual de Cultura, da Academia Espírito-Santense de Letras e da Academia de Letras Humberto de Campos, de Vila Velha/ES

Um comentário:

  1. Discordo! Acho que o comportamento do "Rei do camarote" é no mínimo cruel, devido à concentração de riqueza estipulada no seu próprio texto. Ele se define no princípio da perda do seu dinheiro, para humilhar, com a ostentação, os desprovidos. Não o invejo, nem me dei o trabalho de comentar sobre ele, pois achei a matéria ridícula. Antes que me tachem de comunista ou afins, não o sou! Todo mundo precisa de dinheiro para sobreviver! Fora que dar carteirada e tentar se dar bem é corrupção e não auto-estima baixa! Acho que o tipo de comportamento ressaltado em seu texto é fruto da espetacularização dos indivíduos, já anunciado, proféticamente, por George Orwell, e estudado por sociólogos e filósofos do século passado e este em que estamos.

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