terça-feira, 24 de dezembro de 2013

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA

 

Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “Perigo! Afaste-se!”:

PERIGO! AFASTE-SE!

Suava todo desejoso, baboso por carne, curvas. As tremulosas mãos deslizavam lascivas, quentes, nas costas dela. Era noite e cochichava, em seu ouvido, obscenidades. Era lânguido o empinar de seus glúteos, era feito verso, feito cão sem plumas, estagnada e morna como uma fruta, pronta para ser transpassada pela sua espada. Percorrera meandros, margens tais… ela retribuía as carícias com beijinhos e mordidas, com as unhas ela faz lancinantes feridas na pele dele. Afinal, a secura é tanta e a espada não é brandida faz um certo tempo!

Deslizava a mão, sôfrego, desejoso, até que encontrou o problema! A maldita calcinha! É, ela usa só das legítimas, a Super Calcinha Antiestupro Ultra Security, as famosas SCAUS, são o que há de mais moderno e fashion de nossa sociedade atual. São à prova de ácido, dinamite e objetos cortantes. E sim! Ela esquecera o segredo, a única maneira de abrir a primeira das sete trancas. Aquela íntima, ínfima peça era mais impenetrável do que os cofres de Wall Street e do Banco Nacional.

Insano, melindroso, pronuncia, balbuciante, frases inteligíveis. Entendem-se murmurações desconexas e uma frase repetida feito mantra.

“Hum, hum, assim não dá, não dá!”

Munido de serra elétrica, cortador a plasma e maçarico, iria arrancar aquela vestimenta nem que fosse a porretadas, determinou. Ao começar a arrombar a íntima peça, ela, a calcinha, emitiu alerta em voz metálica, robotizada em seis idiomas! (é... são os efeitos da globalização! E ninguém pode reclamar, afirmando que a mulher não avisou que não queria!):

Perigo! Afaste-se!

Danger! Stand Back!

¡Peligro!¡Alejate!

Gefahr! Zurück!

Danger! Éloignez!

Pericolo! Scostate!

Experienciara o trigésimo evento extracorpóreo. Acordara com a sua mulher desligando o desfibrilador. Depois de a calcinha alertar em seis idiomas, a sua malha inteligente disparou descargas elétricas com a sua mini-micro taser acoplada não se sabe onde, capaz de matar o agressor com parada cardíaca (é neste momento que ele se arrepende por não ter comprado as calcinhas invisíveis!). Agradece a Deus por estar vivo, mas chora ao ver todas as ferramentas elétricas destruídas.
Ficara sem o maquinário e com trauma de tocar a sua mulher. Toda noite quando a vê desata a chorar soluçando sôfrego, roendo as sabugosas unhas... não a toca mais, virou seu espantalho, sua sombra! Treme de medo só em vê-la. Passa a ter alucinações perversas. Até o dia que sai nu na rua correndo enlouquecido, arranhando seu peito cabeludo. É trancado num hospício, volta à razão depois de cinco anos, mas, confiante, toma seu Rivotril, afinal, sua mulher está mais que segura em sua ínfima roupa.


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