domingo, 2 de fevereiro de 2014

CRÔNICAS DE DOMINGO: O QUE SERIA PORNOCHANCHADA?


O QUE SERIA PORNOCHANCHADA?

Deu na mídia: blog resgata fotos históricas de musas da pornochanchada. As imagens, estampadas numa rede social, e que outrora levariam ao delírio a garotada dos anos 1970, parecem até cândidas se comparadas ao "erotismo" deste novo século. Tão cândidas que um garoto, bem jovenzinho, não resistiu e perguntou: "mas, afinal... o que seria pornochanchada?" Seria motivo de rir (da pergunta) ou chorar (pela idade, no caso, a minha)? Prefiro acreditar na primeira opção.

Num mundo sem internet (sim, meninada, isso já existiu; e a gente conseguia viver assim) o máximo do erotismo era ficar acordado bem tarde, escondido do pai e da mãe, para ver um filme, digamos... adulto! Isso porque, naqueles longínquos anos 1980, esse tipo de "filme" já passava na televisão. Na época do meus pais, era no cinema mesmo. E, pasmem: havia fila para entrar.

Muitos artistas começaram (e terminaram) no gênero. Jece Valadão, Carlo Mossy, Nuno Leal Maia, Darlene Glória, Sônia Braga ou Norma Bengell faziam a cabeça (e as fantasias eróticas) da turma. Estavam no auge da beleza física e tiravam partido dela em filmes que, no máximo, mostravam um peitinho - e olhe lá! Alguns ficaram na memória, como as adaptações pra lá de malfeitas de Nelson Rodrigues ("A Dama do Lotação", "Bonitinha mas ordinária"), que, até hoje, fazem com que as pessoas torçam o nariz ao se lembrar do "anjo pornográfico" (que escreveu 17 peças, ao todo; dou um doce para quem encontrar um palavrão nos textos originais!).

É claro que a gente tem de pensar no contexto da época. Corriam os "anos de chumbo" e fazer cinema, no Brasil, era algo quase inexistente! Tudo passava pelo crivo do Governo, que retalhava os filmes a seu bel prazer. Era a época da censura e, antes de a película começar, havia até a exibição de um alvará na tela - eu me lembro disso, mas, no meu caso, era com os filmes dos Trapalhões, né, minha gente? A propósito, sim, até Didi Mocó e sua turma sofreram na mão dos censores!

Uma dessas pornochanchadas foi rodada aqui, no Espírito Santo. O título, "Quando as mulheres querem provas", de 1975. O diretor e ator principal, o galã do gênero, Carlo Mossy. Com participação, até, de Pedro de Lara (quem se lembra dele, no Show de Calouros, do Sílvio Santos?). Uma história bem bobinha, de uma rapaz que levanta suspeitas sobre sua sexualidade, mas que, no fundo, era um garanhão. Passou, esses dias, num canal a cabo, desses que "ressuscitam" velharias. A única coisa boa do filme foi ver a Praia da Costa, de Vila Velha, sem nenhum prédio! Dava para ver o Convento da Penha de todas as direções. Ah, e havia sequências rodadas em Vitória, na Rua Sete. Imperdível!

Muitos atacam a pronochanchada, dizendo que foi ela que "matou" o cinema brasileiro. Até hoje, sobretudo entre os mais velhos, filme nacional ainda tem a pecha de "filme de sacanagem", a despeito do renascimento do nosso cinema, com "O Quatrilho". A léguas de ser meu gênero preferido, discordo totalmente. O que matou (e mata) o cinema nacional é a falta de incentivo. Aqueles diretores tinham vontade de trabalhar (sim, cinema é uma indústria, que emprega muita gente, mas, só no Brasil a gente acha que arte é coisa de vagabundo). Explorar esse "filão" era o que havia na época. Afinal de contas, quem nunca teve, digamos, curiosidade nesse tipo de filme?

Com a evolução do audiovisual e a retomada do cinema, as pronochanchadas perderam o espaço. Veio o videocassete, o DVD e, claro, a internet. A indústria dos filmes adultos também tomou outro rumo, fazendo com que aqueles filmes dos anos 1970, de tão inocentes, ficassem risíveis. Ah, a propósito, se você for o jovem que fez a pergunta, a pornochanchada foi um gênero cinematográfico que evoluiu da chanchada, este, um estilo popular de comédia. Daí foi só acrescentar o ingrediente erótico. Em eras pré-internet, era assim que as pessoas se "animavam". Hoje, tá tudo no Google.

(Texto de Anaximandro Amorim)


Anaximandro Amorim, 34 anos, capixaba, advogado, professor e escritor. Tem cinco livros lançados independentemente (e relançados pela editora AGBook/ Clube de Autores), sendo dois romances, dois de poesia e uma autobiografia. Faz parte de várias instituições culturais do Espírito Santo, como a Academia Espírito-Santense de Letras, a Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha/ES) e o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Possui um site com suas obras, biografia completa, além de outras informações: www.anaximandroamorim.com.br.

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